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Caso Emily e Rebeca: um ano sem justiça

Crianças brincavam em frente de casa quando foram atingidas por tiros de fuzil
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Por: Vítor Lourenço e Thuane Nascimento para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo

Era início da noite de mais uma sexta-feira no bairro do Pantanal, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), com pessoas chegando do trabalho, crianças brincando na rua e vizinhos conversando no portão. Mas disparos de tiros de fuzil fez com que aquele 4 de dezembro de 2020 passou a ser lembrado como o dia da execução das primas Emily Vitória, 4 anos, e Rebeca Beatriz, 7, no portão de suas casas e de seus familiares.

Com as mortes completando um ano neste sábado (4), fica uma pergunta: até quando os culpados pelas mortes de Emily e Rebeca ficarão impunes?

Primas Emily e Rebeca, de 4 e 7 anos, mortas por bala perdida na Baixada Fluminense no fim de 2020
Foto: Reprodução

Apesar de ser o primeiro homicídio infantil de repercussão nacional a acontecer depois da aprovação da Lei Ágatha Felix (9.180/21) , que prioriza investigações de mortes de crianças, a apuração do caso Emily e Rebeca segue sem novas informações.

Moradores do Complexo do Alemão fazem ato contra morte de Ágatha
Foto: Reprodução

A invisibilidade e a impunidade são as principais características durante um ano de investigação. O caso parece ter sido esquecido pela mídia e, principalmente, pelo Estado. Mesmo sendo o principal suspeito de ser o responsável pelas mortes, o poder público continua a não dar uma resposta concreta.

A reprodução simulada ocorre apenas quatro meses após o duplo homicídio, porém, até hoje, o laudo não foi divulgado. É um ano de dor e espera.

Dona Lídia, tia da Emily, cobra uma resposta. “É uma revolta porque se foram crianças da zona sul o caso já estávamos resolvido, mas como morreram na comunidade estão deixando para lá.”

Apesar de familiares e vizinhos, que testemunharam do crime, serem unânimes em dizer que o tiro partiu da viatura da polícia, nenhum policial foi responsabilizado.

Como se não bastasse, a perícia escolhida uma criança da comunidade para ajudar na reprodução simulada ao perceber que os manequins usados ​​não dariam a visão exata da cena.

Enterro de Agatha Felix
Foto: Reprodução

Criação de espaço cultural

Em resistência à atrocidade cometida com as meninas, o Movimenta Caxias e o Movimento de Educação Popular + Nós criaram, sete meses após o duplo homicídio, o Espaço Cultural e Educacional Emily e Rebeca. O local fica próximo à rua onde as vítimas moravam.

O espaço atende de segunda a sábado 150 crianças, de 3 a 13 anos, com aulas de complemento escolar, balé e oficinas de tranças e de hip-hop. Todas as atividades são gratuitas e contam com doações e trabalho voluntário.

Contudo, nem para estudar como as crianças do Pantanal têm paz, pois a comunidade sofre constantemente com as polícias que impedem o andamento das aulas.

“No mês passado, durante a aula, a polícia cercou as ruas no entorno do projeto. Entrou atirando na comunidade, e as crianças criadas a gritar que iriam morrer, uma vez que elas já sabem que aqui a polícia entra, crianças morrem” , diz Carol Bulhões, uma das coordenadoras do espaço.

Violência no Rio de Janeiro
oto: Reprodução

Em meio a um contexto ameaçador para os moradores, Débora Amorim, diretora educacional do projeto, destaca que “o espaço traz de garantia de vida para as crianças da favela”.

O Rio de Janeiro parece ser um laboratório de homicídios de crianças por armas de fogo. Segundo dados da ONG Rio de Paz, até o dia da publicação desta coluna, 84 crianças foram mortas por bala perdida nos últimos 14 anos no estado.

A maior parte dessas mortes tem em comum a responsabilidade direta ou indireta do poder público, que em sua política de guerra às drogas, como é dito na linguagem policial, “danos associados”. Em outras palavras são as mortes das dezenas de crianças que apresentam futuros brilhantes.

É cada vez mais óbvio que o Estado tem avançado com o genocídio negro por meio da aniquilação da infância. Acompanhar o caso de Emily e Rebeca é cobrar uma resposta para que o crime não fique impune. É justiça restaurativa! É responsabilidade nossa lutar para que o fim dado ao sonho de Emily e Rebeca não se repita.

Vítor Lourenço
Integrante do Movimenta Caxias e Coordenador de desenvolvimento territorial do Nós em Movimento

Thuane Nascimento (Thux)
Aluna da Faculdade Nacional de Direito, cria da Vila Operária – favela de Duque de Caxias, diretora do PerifaConnection e integrante do Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular (Najup) Luiza Mahin

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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