‘A dança transformou a minha vida’; no Dia Internacional da Dança, conheça o Projeto Favela Dança do Complexo do Alemão

Atualmente, a iniciativa impacta diretamente 100 famílias democratizando a dança no território
Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

Espelhos, chão com piso de linóleo, música clássica, coque, sapatilhas e muito trabalho. Isso é tudo o que tem em uma sala no 2º andar de um prédio no coração do Complexo do Alemão. Lá mora o projeto Favela Dança, um local que abriga sonhos. 

De acordo com a criadora do projeto, Yasmin Cícero, o projeto nasceu em 2023 com apenas três alunos e no fim de 2024 já impactava diretamente 100 alunos, oferecendo aulas de ballet clássico, contemporâneo e muitas outras modalidades. Quando perguntada sobre a importância de oferecer aulas gratuitas de uma atividade tão elitizada, Yasmin foi direta. “Como moradora do Complexo do Alemão, a dança transformou minha vida, assim como um projeto social também. Não tinha outro caminho. Era esse. Eu falo que eu não tenho muito a oferecer, só a minha arte”.

Yasmin conta que vê como uma missão compartilhar seus saberes e viu em uma projeto social a chance de transformar a vida dessas crianças e adolescentes através da dança. “Quero poder mudar a vida desses jovens, que muita das vezes sonham com uma carreira na dança ou que até mesmo só buscam uma oportunidade de praticar uma atividade. Eu só sei fazer isso, eu aprendi isso, eu cresci nisso. E se eles quiserem, eles serão abraçados. A dança é um meio tão difícil, principalmente para a gente da favela. Temos que acolher e abraçar, porque aqui vai muito além da dança”.

Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

É o caso da Amora Lazari, 10 anos e moradora da Pedra do Sal, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Sua mãe, Adriana Lazari, 52 anos, conta que a dança foi um divisor de águas na vida de Amora. “Minha filha teve puberdade precoce. Devido à puberdade precoce, ela desenvolveu ansiedade com 8 anos. Ela tinha crises horríveis e não conseguia acalmar ela, até que descobrimos a dança. E agora, a minha filha não tem crise”, conta a mãe da bailarina. Amora concorda com a mãe e afirma “a dança me acalmou. Não é só sobre dançar, estou virando uma artista e vivendo bem”, explica a bailarina que integra o projeto há 1 ano.

Kayo Myguel de 13 anos também é mais um dos jovens que tiveram sua vida impactada com a dança. Morador do Complexo da Penha, Kayo está há 4 meses no projeto e tem a dança como meta de vida. “A dança para mim é mais que técnica, mais que pernas altas. A dança para mim é uma forma de dar amor e vida e me expressar com o próprio corpo. É uma meta de vida viver de dança”, conta o jovem bailarino.

Mas o sonho de manter o projeto vivo é bem difícil. Yasmin conta que tira forças de seus alunos, porque faz tudo sozinha. “É lindo transformar vidas, mas é muito difícil, não é fácil. É tudo na peleja mesmo. E atualmente eu faço tudo: dou aula, faço vídeo, cuido das redes sociais. As vezes bate o cansaço e o desânimo e aí eu ganho um sorriso dos meus alunos, vejo eles evoluindo, passando para o Theatro Municipal e tudo isso me lembra do porque eu faço o que faço”, desabafa Yasmin.

E quando o assunto é dança na favela, Yasmin tem um recado. “O Alemão é muito privilegiado porque aqui a gente tem muitos talentos. Através da dança, conseguimos trazer o melhor que existe na favela e é isso que a gente tem que mostrar. Temos muitos talentos e a gente pode crescer, a gente pode realizar.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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