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“Ou vai pra pista, ou fica de pista”: moradores de Manguinhos e Alemão contam a rotina de trabalho como entregadores de aplicativos

Uma mobilização nacional da categoria dos entregadores por aplicativos reivindica melhores condições de trabalho
Paulo Sérgio entregador de app. Foto: acervo pessoal
Paulo Sérgio entregador de app. Foto: acervo pessoal

Texto: Igor Soares e Melissa Cannabrava

Isolamento social para quem? Esse é o questionamento que entregadores dos aplicativos Ifood, Rappi, UberEats, Loggi e James estão fazendo, a fim de buscar respostas para conseguir trabalhar em condições decentes e garantir o sustento da família sem ser contaminado pelo novo coronavírus. Desde a manhã desta quarta-feira (1), motoqueiros em diversas capitais do país saíram às ruas e aderiram ao #BrequeDosApps, movimento que pede a consumidores que não façam pedidos por aplicativos no dia de hoje e reivindica melhores condições de trabalho durante a pandemia.

Auxílio contra furtos ou acidente são reivindicações da categoria, que agora lida com a falta de segurança para trabalhar durante o período de isolamento social, já que os profissionais alegam insuficiência na distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além disso, o movimento é contra bloqueios de trabalhadores pelas empresas de delivery e contrários à redução de taxas de pagamento por quilômetro rodado.

Taynan Adla, de 22 anos, é morador do Complexo do Alemão e motoboy pelo Ifood. Está desempregado há pouco mais de um ano e viu nas entregas por aplicativo uma forma de garantir a sobrevivência da família. No entanto, diz que não se vê valorizado pela empresa para a qual presta serviço. O entregador tem uma rotina de 8h a 12h de trabalho todos os dias para conseguir ter uma renda mínima. Para ele, há muitos riscos para além da possibilidade de contaminação pela Covid-19. 

Taynan é entregador de aplicativo e reclama de condições de trabalho. Foto: acervo pessoal 

O motoboy reclama da falta de equipamentos de proteção, como máscaras e álcool gel. “Eles tinham que distribuir álcool gel de duas em duas semanas, mas só estão dando um vidro de 400ml por mês”, afirma. 

Outro caso parecido com o de Taynan é o de Paulo Sérgio Videira, de 31 anos, que é morador de Manguinhos. Ele tira onda com a sua Suzuki Intruder 125 pelas ruas da comunidade da zona norte do Rio. A moto foi um sonho realizado em 2011, após juntar dinheiro por um longo tempo. Paulo conta que comprou o veículo com a intenção de usar como meio de transporte em momentos de lazer, mas a dificuldade de conseguir emprego fez com que se tornasse a sua principal fonte de renda. “A intenção era só passear com ela, mas, desde quando comprei, sempre trabalho com minha moto mesmo. O mercado de trabalho, principalmente para quem não tem tanto estudo como eu, fica difícil. Ou a gente vai pra pista ou fica de pista.”

A moto é a principal fonte de renda de Paulo Sérgio. Foto: Acervo pessoal

O motoboy já trabalha com entregas muito antes da moda dos aplicativos e começou a entrar para o time dos entregadores de app ano passado. “Depois que tive uns problemas com a habilitação, peguei a minha moto e botei para rolo. Ano passado, baixei o UberEats e Ifood e comecei a trabalhar, entregando lanche, sushi, pizza”, conta Paulo.

Um dos maiores desafios para quem vive de entregas é o medo de ser bloqueado. “Teve um dia que peguei uma corrida para o bairro de Tomaz Coelho. Quando cheguei no local, fui informados que o endereço estava errado e que eu precisaria ir para outro ponto da cidade. Liguei para o suporte, que entrou em contato com o cliente. O suporte me recomendou cancelar e, mesmo após esse contato, fui bloqueado. Tive que ir lá na loja da uber para efetuar o desbloqueio. Nesse tempo fiquei sem trabalhar”, revela.

Sem emprego formal, Paulo Sérgio recorreu a aplicativos de delivery para sobreviver. Foto: acervo pessoal

Com a gasolina no Brasil custando até R$ 5,00 e a manutenção do veículo, a renda líquida mensal dos entregadores fica cada vez menor. Paulo diz que, trabalhando de 17h até o meio da madrugada, consegue uma renda de em média R$ 500,00 por semana, mas que grande parte da remuneração é usada para pagar o combustível das corridas. “Às vezes, estou em um lugar e, para chegar ao estabelecimento, vou levar de 15 a 20 minutos, porém, preciso ir lá buscar para não ser bloqueado. O combustível do meu deslocamento até o estabelecimento para pegar a encomenda o aplicativo não paga”, critica Paulo. 

Por meio de uma notificação enviada aos usuários do app, a startup brasileira iFood, que é líder da categoria no país, afirma que o valor médio é de R$ 21,80 por hora e o valor mínimo pago por entrega é de R$ 5,00, e garantiu que não vai desativar entregadores que estão participando das manifestações. A empresa ainda afirma que R$ 25 milhões foram destinados para a proteção contra a Covid-19.

Ambos os entrevistados esperam que a paralisação das atividades de hoje traga resultados para quem sobrevive apenas do trabalho como entregador de aplicativo. “Estamos torcendo para eles melhorarem as condições de trabalho, mas, enquanto isso, a gente vai sobrevivendo, porque a gente precisa trabalhar”, ressalta Taynan. 

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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