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“É um mau cheiro danado, é muito rato”: Da Rocinha ao Alemão, acúmulo de lixo afeta o cotidiano dos moradores 

Por um lado o descarte incorreto, por outro a reclamação em relação à coleta de resíduos
Rocinha produz 230 toneladas de lixo por dia Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Imagine viver em um local onde o lixo fica no meio da rua e constantemente conviver com o mau cheiro e a presença de ratos?! Essa é a realidade de moradores de favelas do Rio de Janeiro. A falta de coleta seletiva regular ou a pouca conscientização dos moradores em relação ao descarte constrói um ambiente desagradável para se viver. 

Na Rocinha, existem dois plantões para coleta de lixo, na parte da manhã e da tarde. A grandeza do território exige uma ação dinâmica dos garis. Por dia, a Rocinha produz mais 230 toneladas de resíduos sólidos por dia, segundo a Comlurb. Com mais de 72 mil moradores, não é difícil que o lixo se acumule em diferentes partes do dia.  

Nesta favela, os descartes são feitos nas lixeiras, que ficam em partes das calçadas da Estrada da Gávea e outras ruas principais. Antes o lixo era jogado diretamente no chão. Em 2024, a Comlurb instalou caçambas nestes pontos. A iniciativa veio após a reclamação dos moradores que precisavam dar a volta nas montanhas de lixo para conseguir circular no local.  

No entanto, a instalação dos recipientes demonstrou a necessidade de uma conscientização ambiental para os moradores. O costume de jogar lixo no chão faz com que os moradores continuem com a prática, mesmo com as caçambas vazias. Fernando Valença é gari e trabalha na Rocinha há 11 anos. Ele observa a necessidade de uma reeducação dos moradores em relação ao descarte.  

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

“É cansativo. A demanda está muito alta, a quantidade de lixo é alta. Muitas vezes a galera da manhã não consegue terminar o trabalho e acaba ficando pra tarde. Por conta de não uma quantidade de caminhões que suporte a quantidade de lixo produzido. As pessoas não têm noção de que elas podem jogar o entulho na caixa de ferro grandona e o lixo doméstico na caçamba laranja. Aí jogam lixo doméstico no chão”, conta Fernando.  

A falta de um planejamento urbano nas favelas também contribui para este cenário. A responsabilidade não é somente do morador. Mas também do Estado, que precisa reorganizar os pontos e formatos de retirada do lixo. Em meio a este cenário, quem convive próximo às lixeiras sofre com o cheiro ruim, mosquitos e ratos. Seu Sérgio, que passa o tempo nas calçadas da Rua 1, se incomoda bastante com a situação. 

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

“É terrível. É um mau cheiro danado, é muito rato. E ninguém toma uma providência. É uma coisa que se tiver um pouco de boa vontade tem como solucionar esse problema. Só que isso não interessa o poder público. Tem que tomar uma providência. Arrumar um local mais adequado [para o descarte] aqui mesmo, porque se procurar tem. Aí chove e a chuva leva tudo. Não é o pessoal que joga, é que não tem outro lugar para colocar”, explica Sergio Carvalho, de 69 anos. 

Do outro lado da cidade, a situação do lixo não é diferente. Talvez seja até pior. Visto que enquanto na Rocinha existe uma coleta rotineira em formato de plantão, em algumas áreas do Complexo do Alemão os caminhões de lixo ficam mais de uma semana sem aparecer.  

Na entrada do Beco da Sorveteria, na Alvorada, é assim. Em determinado momento, a quantidade de lixo é tanta que moradores precisam dar a volta na montanha de resíduos. A falta da presença da Comlurb no local afeta diretamente o trabalho da sorveteria que é ponto de referência na localidade. 

Complexo do Alemão não tem coleta de lixo regular  Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

“A gente precisa trabalhar, mas tem dia que a gente nem abre a loja. Fica insuportável. Tampa a rua, entra lixo. Todo mundo aqui é atrapalhado por isso. Eles ficam muito tempo sem vir. Aí vai juntando, vai juntando lixo. Ratos a gente viu ali e doenças são inevitáveis. É difícil para carro passar, crianças”, conta Carmen Mirian. 

Rafaela Siqueira, que é moradora do Beco, também é afetada pela falta de coleta e denuncia a negligência dos funcionários da Comlurb, que não solucionam o problema mesmo vendo o caos da situação. 

“Tem dias que nem dá para entrar no beco de tanto bicho e lixo. Ontem mesmo eles vieram, jogaram o lixo para cima e não limparam. E só vai aparecendo bicho. A noite que eles aparecem. Eu moro lá para trás, mas quem mora aqui na frente sofre muito com isso. É eu só tenho aqui para descartar”, explica Rafaela. 

O Voz das Comunidades entrou em contato com a Comlurb para entender se existe previsão de melhoria para a coleta da Rocinha e plano de coleta diária para o Alemão. Até o momento da publicação não tivemos retorno. 

O lixo que traz lucro 

Em meio a tantos problemas, são os moradores que produzem elementos positivos. Tanto na Rocinha quanto no CPX famílias se organizam para reciclar tudo aqui que for possível. A família de Edilma recicla os plásticos e ferros descartados na Vila Verde. A família recebe o material de catadores, faz a separação e envia para empresas que produzem materiais recicláveis. De acordo com ela, o trabalho não para. 

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

“Tem que ser separado o pet, o plástico e o ferro. Temos uma balança para medir o valor do material. Aqui a gente trabalha o dia todo, não tem horário. Toda hora alguém traz. Toda hora tem lixo. No morro tem outras pessoas que trabalham com isso também. Ninguém sai prejudicado porque é muito resíduo. Fora as coisas boas que a gente encontra lixo”, conta Edilma Pedro. 

No Complexo do Alemão, o Ferro Velho do Naldo, localizado na Fazendinha, exerce um trabalho fundamental que é bem parecido com o de Edilma. No entanto, o galpão distribui o material reciclável prensado. O espaço existe há mais de 40 anos e emprega jovens e adultos das favelas do Alemão. Reinaldo Meireles, neto do fundador e funcionário do espaço, observa que as pessoas não têm consciência da utilidade do lixo que elas produzem. 

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

“Os próprios moradores não têm noção do que é esses espaços. Muitos desdenham do nosso trabalho, mas a gente não liga. Porque a gente sabe que é um bom trabalho. As pessoas acham que a gente trabalha com qualquer coisa. Não se tem uma noção do que realmente é lixo e reciclável. Nesse trabalho, eu conquistei minha casa. Meu avô e meu pai tem a vida totalmente estável por conta deste ferro velho”, conta Reinaldo. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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