Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
De uma forma avassaladora e contínua, a pandemia de Covid-19 trouxe perdas e sequelas inimagináveis para a rotina de familiares e pessoas próximas das 428 mil vítimas no Brasil. Atualmente, a média móvel de mortes brasileiras por coronavírus é cerca de 2,5 mil pessoas, segundo os dados apurados pelo consórcio de veículos de comunicação (Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL), que realizam a checagem a partir dos registros das Secretarias Estaduais de Saúde. No Rio de Janeiro, de acordo com o Painel de Atualização de Coronavírus nas Favelas cariocas, o número de casos confirmados de moradores que foram infectados chega a 25.663 e o total de mortes foi de 1.975 (atualização de 13 de maio).
Uma ameaça, que apesar de ser invisível, deixa ausências nítidas por onde passa, principalmente nas regiões periféricas do país. Como na residência da família de Zaquel Nunes da Silva, ambulante de 39 anos que faleceu vítima de Covid-19 no 1º de abril deste ano, e que enfrenta recentemente essa realidade de perda de um ente querido.
O Complexo do Alemão é a terceira comunidade que mais teve casos de coronavírus no Rio de Janeiro, com 2.025 casos confirmados e 125 óbitos (ficando atrás do Complexo da Maré, com 4.192 e 270, e Rocinha, com 2.547 e 121, respectivamente). Na Penha, território próximo, os números também são altos: 1.293 casos confirmados e 85 óbitos registrados.
Amantes de Cristo e fiéis aos valores do senhor, Gilvania Tavais Nunes da Silva, de 36 anos e esposa de Zaquel, explica que a constatação do resultado positivo em seu marido pegou a família toda de surpresa. “Durante toda a pandemia, nos prevenimos. Nunca imaginávamos passar por isso. Foi algo que infelizmente jamais vamos esquecer. Eu também tive e meu filho mais velho também, só que tivemos sintomas mais leves. É uma doença inesquecível e horrível de se contrair”, desabafa.
Além de pai, Zaquel era considerado o pilar central da família em objetivos e determinação. Como meta de vida, ele almejava uma condição digna de moradia para esposas e filhos para facilitar a locomoção e o bem-estar do seu primogênito, Gabriel, de 18 anos, que possui limitação motora.
“O meu marido sempre foi uma pessoa que buscava o melhor para nós e para todos que conhecia. Ajudava em centros de recuperação, trabalhou em lojas, shoppings e em outras empresas. Sempre foi um guerreiro focado nos seus objetivos e onde passava conquistava com seu jeito. Ele tinha o sonho que, na verdade, era mais uma meta… a de conseguir uma casa acessível para gente. Como o nosso filho possui limitação motora e utiliza cadeiras de rodas para locomover-se, ele pegava nosso filho no colo para subir e descer escadas. Agora, sem ele, a situação fica mais complicada”, explica Gilvania.
As dádivas concedidas pelo Zaquel para amigos e conhecidos retornaram de forma inesperada para a família. De surpresa, as irmãs da igreja que ele frequentava organizaram uma vakinha online para concretizar o sonho da residência acessível. O financiamento coletivo busca arrecadar 100 mil reais e no momento está em 12.583 reais. “Com o apoio da igreja, nós conseguimos um amparo e criaram uma vaquinha para nos ajudar. Acreditamos que o sonho será transformado em realidade e teremos um futuro melhor com a ajuda de todos”.