A crise no fornecimento de energia tem se agravado nas favelas do Rio de Janeiro, afetando milhares de moradores em meio a uma intensa onda de calor. No Complexo do Alemão, moradores relatam estar sem energia por mais de 24 horas. E sem luz, encarar as altas temperaturas na cidade tem se tornado uma tarefa extremamente difícil.
Começando pelo asfalto, o Condomínio do Ypê, no Complexo do Alemão, tem dois transformadores, localizados em postes que ficam dentro do terreno. Um dos transformadores queimou e os moradores do local já estão há mais de 24 horas sem energia. O Voz das Comunidades esteve no condomínio e conversou com moradores.
“Isso aqui é sofrimento. Isso nunca aconteceu. Já abrimos muitos protocolos e a Light até veio aqui, mas eles só vieram num carro pra constatar o problema. São vários blocos que estão sem e luz e isso dá mais de 140 apartamentos. São 140 famílias”, relatou a moradora Noemia Santos Quadrado, moradora há mais de 60 anos do condomínio do Ypê.
“Já abri 5 protocolos para solicitar atendimento e até agora nada de trocarem o transformador. São vários pedidos de vários moradores sem luz. Lá em casa, trabalhamos com a venda de quentinhas. Perdemos tudo que estava na geladeira e no freezer. Um grande prejuízo”, relatou outra moradora do Ypê que não quis se identificar.
Se no condomínio já está assim, a falta de energia se agrava a outras dentro do Complexo do Alemão. Regiões da favela como Alvorada, os apagões tem sido frequentes e prejudicam muito a rotina dos moradores. Na rua Yucatan, os moradores tiveram que conviver com uma montanha russa de energia. “Ficamos sem luz três vezes. A luz volta 1 hora e depois cai. De madrugada é terrível pra dormir e até agora estamos sem energia”, relatou Thamara Rocha ao Voz das Comunidades pelas redes sociais.
“Minha mãe mora na Rua Viúva Mendonça, no escadão que dá pra Estrada do Itararé. Ela está indo para o terceiro dia sem energia elétrica. A gente liga pra Light e eles não resolvem nada. Tem muitas casas sem energia aqui”, relatou nail designer Ayanne Prado. “Estamos sem luz próximo ao Birosca, na Fazendinha. Tenho duas crianças com deficiência em casa e com esse calor não dá pra ficar sem luz”, relatou outra moradora do Complexo do Alemão.
O problema também atinge outras favelas da cidade. De acordo com a Agência de Notícias das Favelas (ANF), moradores do Morro Santa Marta e da Ladeira dos Tabajaras relatam quedas constantes de energia, algumas ocorrendo desde janeiro. Relatos de falta de luz também na Rocinha.
Calor extremo aumenta consumo e sobrecarrega rede elétrica
O aumento no consumo de energia está diretamente ligado ao calor intenso que atinge o Rio de Janeiro. No dia 17 de fevereiro, a cidade entrou em Nível de Calor 4, com temperaturas entre 40°C e 44°C, previsão de permanência ou aumento nos próximos dias e impacto direto no sistema elétrico.
Em nota, a Light afirmou que está “empenhada” em resolver os problemas relatados e destacou que as altas temperaturas têm causado sobrecarga na rede devido ao aumento do consumo e às ligações clandestinas. “A empresa informa que está monitorando os casos relatados e já mobilizou equipes técnicas para atuar nos trechos mencionados”, declarou a concessionária.
Em algumas regiões, infelizmente, as ligações de energia clandestinas representam um dos principais desafios para a estabilidade do fornecimento de energia – principalmente durante o verão, quando a demanda cresce significativamente. Segundo informações da concessionária, desde o início do ano, já foram trocados 1.150 transformadores devido a furtos de energia no Rio de Janeiro.
De qualquer forma, os moradores das regiões de favela seguem enfrentando as consequências por falta da falta de luz, com prejuízos para o comércio local e perda de alimentos.
No condomínio do Ypê, não existem ligações indevidas e ainda assim, a consequência por falta de energia chegou. Foi o caso de Noemia, que teve que pôr comida fora. “Eu ia fazer frango hoje pra jantar. Mas azedou. Tive que botar fora. Sem condições!”
Além do mais, a forte onda de calor é um vilão que assombra a todos, afetando principalmente as crianças e os idosos.
