Está chegando mais uma edição do Favela Gastronômica! Pelo segundo ano seguido, sabores e saberes de outras comunidades se reúnem para mostrar o talento na cozinha. São 20 participantes de diferentes partes da cidade. Da rabada com agrião ao bolo de pote, o evento permite que o público experimente diferentes pratos com um valor acessível.
Os empreendedores selecionados são de favelas do Rio e não estão para brincadeira. A relação deles com a gastronomia é recheada de afetos e memórias boas que se tornam um ingrediente mais que especial. Ricardo Araújo participa pela primeira vez levando o mocotó do Boteco da Tia Lauzinha, sua mãe já falecida.
O Boteco fica em Manguinhos e é um ponto tradicional há mais de trinta anos. Lauzinha era reconhecida pela forma diferenciada de usar os temperos. A cozinha era um espaço sagrado que ela dominava sozinha. Somente depois de muito tempo ela cedeu e permitiu que Ricardo cozinhasse. No entanto, o mocotó, que era a marca registrada da mãe, é feito pela sua esposa, uma das únicas pessoa que Lauzinha compartilhou o fogão e que aprendeu com direto da fonte. Anos depois a receita se mantém fiel a original. Quem comeu o mocotó da Lauzinha ainda hoje reconhece o sabor e o legado dessa mulher.

“A gastronomia sempre esteve muito presente na nossa família. Como somos uma família negra, sempre gostamos daquelas comidas mais pesadas: mocotó, angu a baiana. Hoje, a gente vende de dois a três panelões de mocotó no final de semana. O maior ingrediente é manter o legado da minha mãe, fazer com o mesmo carinho, o mesmo jeitinho. A gente bota bacon, carne seca. É pura carne. A minha mãezinha estaria muito feliz de levar o mocotó dela para outras pessoas”, conta Ricardo.
Os pratos estão divididos em categorias de lanches, sobremesas e refeições e tem opção para todos os públicos. Ricardo participa pela primeira vez, mas tem pessoas que já viveram essa experiência em 2024 e retornam com muita expectativa neste ano. É o caso da Allana Fernanda, da Star Open Food. Diretamente da Fazendinha, ela traz o arroz de Costela com mandioca na manteiga. De acordo com ela, a maior intenção do prato é trazer aquele gostinho de comida de domingo e o sabor de estar em família.
Allana ressalta que mesmo em meio a desafios a gastronomia da favela tem excelência. O amor e a dedicação sempre foi um ingrediente especial na sua trajetória.

“Pra mim a maior importância de valorizar a gastronomia é externar para o mundo que aqui tem profissionais incríveis. Eu não consigo me imaginar longe da cozinha. Pra quem gosta, cozinhar é uma forma de demonstrar quem você é através do alimento. É a minha forma de dizer que amo. Gosto de ver a reação das pessoas quando elas estão comendo o meu prato. Meu prato esse ano é um arroz caldoso de costela. Com certeza vai ficar na memória de quem provar”, conta Allana.
Entre os pratos oferecidos teremos, açaís, bolos de pote, tapiocas recheadas, acarajés, caldos, feijoada, angu a baiana, baião de dois, churrascos, peixes e muito mais. O Favela Gastronômica acontece nos dias 12 e 13 de abril, a partir de 11h, na Praça de Inhaúma.