“5, 6, 7 e 8. Quero ver quem consegue ficar mais tempo no equilíbrio”. Era essa a frase que o professor do Ballet Manguinhos dizia em cima do palco na festa de comemoração de 13 anos do Ballet Manguinhos para uma plateia cheia de bailarinos, na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio.
O projeto, idealizado por Daiane Ferreira, surgiu nos fundos de uma igreja e contava com 70 alunas de ballet clássico. Ao longo desses 13 anos o projeto evoluiu, inseriu novas modalidades, alcançou novos saltos, desafios e o que não faltou foi o tal do equilíbrio para lidar com todas as adversidades.
Carine Lopes, atual diretora administrativa da instituição, contou que alguns momentos foram marcantes na história do Ballet Manguinhos, mas que a perda de Daiane, fundadora do projeto e uma vítima do Covid-19, foi devastador. “Foi um momento muito triste para todos nós. Era um momento que a gente já não tinha mais felicidade. Tínhamos acabado de comprar a nossa sede através de um novo patrocinador e ela idealizou tudo. Infelizmente a covid tirou isso de nós.”

Mas Carine conta que o momento atual vivido pelo Ballet Manguinhos é bem especial e marcante e estar na favela de Manguinhos comemorando esses 13 anos de existência com os moradores significava muito. “Entendemos que o território precisa das ações e estamos realizando. O território nos apoiou no momento mais difícil que vivemos. Todas as ações que realizamos, porque o Ballet Manguinhos não é só ballet, temos o apoio da comunidade”. Ela conta que tudo o que a instituição promove é também um pedido dos moradores de Manguinhos. “Às vezes a gente nem pensava em fazer um curso, mas a comunidade sempre bate na porta e pede. Pediram para oferecermos algum curso voltado para mulheres, então abrimos aula de boxe para mulheres, uma atividade que a gente nunca tinha feito antes. Aula de chinês, aula de inglês. E tudo que a comunidade sinaliza para a gente, tentamos oferecer.”
Graças a toda essa credibilidade com os moradores de Manguinhos, quando a instituição abre novas vagas para as aulas de dança é sucesso. “Na última vez que abrimos vagas, se inscreveram 1800 moradores”, conta a diretora.
Atualmente o Ballet Manguinhos conta com 600 alunos do território inscritos em aulas de ballet, jazz e contemporâneo e é considerado a 2ª casa para muitos alunos. É o caso da Geovana Laysa de 18 anos. Ela é aluna da instituição há 11 anos, integra a CIA de dança que participa de competições e esse ano começou a dar aula na instituição. “O Ballet Manguinhos me tirou de um mundo que machuca, me desligou de um mundo que pode me desviar de um caminho bom. Então, a dança é a minha casa. A dança é a minha arte. É o meu jeito de me expressar quando eu não estou bem e o Ballet Manguinhos é para onde eu fujo, para onde eu me escondo das coisas ruins e é onde eu me encontro também”, conta a bailarina e, agora, professora também.
Um lugar que abriga sonhos, passos e muita arte, o Ballet Manguinhos segue forte na missão de democratizar a dança. E quando perguntada o que se espera para os próximos 13 anos, a diretora Carine não hesita. “Sonhamos alto, queremos nosso próprio teatro, queremos oferecer para a favela espetáculos. Queremos trazer para o nosso território instrumentos multiuso que possam democratizar a arte e queremos ser um espaço de educação, de impacto e de referência.”

