Uma música da Baby do Brasil fala que ‘Todo dia era dia de índio!” Mas a palavra índio já está mais do que ultrapassada, pois índio não é um povo só. E o nome, que carrega uma série de rótulos, foi trocado por indígenas. Por quê ? A explicação é mais simples do que parece. Os indígenas pertencem a várias etnias, com línguas e costumes diferentes.
Desde 2008 há uma lei, a nº 11.645, que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. Mas o avanço foi pequeno e a descriminação relacionada a esses povos ainda se mantém.
No Brasil existem cerca de 260 povos indígenas com mais de 150 línguas diferentes, de acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), organização não-governamental de defesa dos direitos socioambientais dos povos indígenas do Brasil
E para mudar o quadro, o dia 19 de abril não é mais dia do índio e sim, Dia dos Povos Indígenas. O dia foi decretado por uma outra lei, a de nº 14.402 e aprovada pela Câmara dos Deputados em 2022. A proposta é da ex-deputada federal Joenia Wapichana. De início, a lei foi recusada pelo então presidente Jair Bolsonaro, mas o veto foi derrubado. Logo, já está em vigor e busca desconstruir o preconceito sobre aqueles que ainda insistem em chamar de “índio” uma população que é plural.
Tá rolando uma educação sobre povos indígenas agora?
No Brasil, segundo o Censo de 2022, existem 1.693.535 indígenas. A maioria se concentra na região Norte e Nordeste. Já no estado do Rio de Janeiro há cerca de 17 mil indígenas. E pelo Complexo do Alemão, recentemente, a escola Municipal Professor Mourão Filho começou a ter uma disciplina de conscientização sobre questões dos povos originários e também a respeito da população negra.
A professora com mestrado pela CEFET em Relações Étnico Raciais, Rosana Mello, diz que faz um projeto voltado para falar de personalidades negras e indígenas. “Primeiro parto do ponto de vista, pra falar da vida pessoal, da trajetória profissional, da biografia. E aí depois eu acabo fazendo desdobramento de acordo com a abordagem que eu vou fazendo com os alunos na sala.” Ela destaca como referências o ambientalista e filósofo Ailton Krenak e a Ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara, por exemplo.
Ela também diz que o trabalho é desafiador, por abordar temas novos para os alunos. “Muitos dos meus alunos pensavam que não existiam nem indígenas, pensavam que fossem lendas, que fossem histórias. Os indígenas têm um lugar de fala mais silenciado comparado ao negro. Eles tiveram uma dificuldade muito grande de compreender que os indígenas são seres humanos como nós, né?” explica Rosana.
Além disso, revela que o preconceito com os povos originários é muito grande, por não se falar ainda tanto do tema. “Às vezes a gente reproduz muita discriminação, muito preconceito”. Índigena não é fantasia!”
O aluno Natan Pereira, de 10 anos, diz que já aprendeu mais sobre a história, mesmo com poucas aulas que teve e prefere ouvir quando se fala dos povos originários. “Eu gosto de aprender, porque ela fala dos indígenas, também ela fala um pouco dos escravos (escravizados). Eu aprendi que quando eles chegaram aqui, os portugueses, eles queriam obrigar os indígenas quando ofereciam coisas. Tipo pente, espelho, essas coisas, para obrigarem os indígenas, para atrapalhar eles.”
Por fim, a diretora da escola, Valquíria Tomé, diz que a aula está fazendo os alunos ficarem animados com a temática. “Nossa, eles estão apaixonados. Está acontecendo uma identificação. Os olhinhos deles ficam brilhando para o vídeo”, conclui.
Algumas comidas vindas dos povos originários: Tapioca, Caruru, Beiju, Tacacá, Pirão, Pamonha, Bolo de milho, Bolo de mandioca, Paçoca de banana-da-terra.