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Em 4ª edição do Invasão de Livros, Voz das Comunidades distribui 6 mil exemplares em favelas do Rio

Ação da ONG Voz das Comunidades contou com 50 voluntários e distribuiu livros de diversos gêneros literários
Foto: Joice Bento / Voz das Comunidades

Produção: Thayná Souza

Neste domingo (24), as ruas do Complexo do Alemão e da Penha foram tomadas por histórias e sorrisos durante a “Invasão de Livros”. A ação, que começou às 11h e reuniu mais de 50 voluntários além da equipe da ONG Voz das Comunidades, distribuiu livros em incentivo à leitura em diversos pontos das comunidades.

Esta foi a 4ª edição do projeto, idealizado por Rene Silva, jornalista e fundador do Voz das Comunidades. Criado em memória à invasão policial no Complexo do Alemão em 2010, o “Invasão de Livros” busca transformar essa lembrança dolorosa em uma iniciativa de esperança, promovendo a educação e espalhando o gosto pela leitura pelas favelas do Rio de Janeiro.

Geisa Pires, coordenadora do Impacto Social no Voz das Comunidades
Foto: Fabrício Sousa/Voz das Comunidades

Segundo Geisa Pires, coordenadora do Impacto Social, o projeto tem um foco claro: priorizar comunidades em extrema vulnerabilidade social. “A gente prioriza lugares que estão em extrema vulnerabilidade social e têm bem menos acesso cultural e à internet. Então pensamos em distribuir em localidades que não têm acesso nenhum à cultura. Num todo, o Complexo do Alemão não tem essa cultura literária, mas é muito mais difícil de chegar nessas localidades que estão em uma situação mais extrema de vulnerabilidade. Sempre pensamos mais nesses pontos que são mais esquecidos. Nosso principal foco é levar a literatura para esses lugares mais isolados”, explicou.

Outro ponto central da ação é a valorização da representatividade negra. Todos os livros distribuídos foram cuidadosamente selecionados para incluir autores e histórias que destacam a cultura negra. “A gente sempre opta por ter representações negras dentro de cada livro; seja na história, seja o autor. Trazer essa informação de que pessoas pretas estão sendo faladas em livros, estão escrevendo livros, é fazer com que eles entendam que também podem ser um escritor, um personagem, um leitor, um contador de histórias. Então, nessa ação, a gente foca em autores pretos e histórias pretas, para, principalmente, as crianças conseguirem se ver e pensar: tem um personagem igual a mim”, ressaltou Geisa.

Nesta edição, os participantes foram divididos em cinco grupos, carregando não apenas livros de diversos gêneros, mas também a missão de inspirar crianças e adultos a descobrir o poder transformador das palavras. Em diferentes pontos das comunidades, leitores e voluntários compartilharam momentos de conexão através da literatura.

João Gabriel, de apenas 10 anos, foi um dos jovens impactados pela iniciativa. “Eu gosto de ler… mais ou menos. É mais divertido que estudar e deixa as pessoas espertas também”, disse. Quando questionado se ele se considera esperto, a resposta veio com convicção: “Sou!”.

Já Inês Andrade, 64, trouxe um olhar experiente sobre a importância dos livros. Leitora assídua e fã de romances policiais, como os de Agatha Christie, ela destacou o papel transformador da literatura. “Fui acostumada a ler desde nova, mas hoje falta incentivo nas escolas e até dos pais. O livro faz você viajar e mostra que existe um mundo além da comunidade”, afirmou. Inês não participou do evento sozinha, sua neta Luna Maria, de 4 anos, já demonstra o mesmo encanto pelas histórias. “Ela gosta que a gente conte histórias e, muitas vezes, inventa as próprias narrativas. Trabalha muito o imaginário dela”, disse a avó com orgulho.

A pequena Yasmin Lima, de 7 anos, também deixou o evento com um sorriso contagiante. Ainda aprendendo a ler, ela ficou encantada com o livro que ganhou. “Apontou para a galinha na capa e achou engraçada”, contou um dos voluntários. Yasmin ainda compartilhou um segredo: “Gosto de comer doce. Comer doce lendo livro é bom”.

Rubia Vitória, de 7 anos, foi uma das crianças impactadas pela ação. Ainda aprendendo a ler, escolheu um livro de Lélia Gonzalez para crianças e ficou encantada com as ilustrações. “Eu achei bonito os grafismos. Legal”, disse, com os olhos brilhando de curiosidade.

Danilo Miguel, 10 anos, também mergulhou no universo literário. Fascinado por mitologia, ele escolheu duas obras sobre mitologia grega e explicou o que sente ao ler. “Sempre que vejo alguma coisa que dá pra eu ler, eu leio. Ajuda a expressar os sentimentos. Eu sinto que tô num mundo de magias”, disse Danilo, que descobriu o prazer pela leitura no clube de leitura da escola.

Contação de Histórias

Enquanto isso, na Ocupação Daru, no Complexo do Alemão, a “Tia Marcia” liderava a sessão de contação de histórias para as crianças. Entre os livros escolhidos estava Caderno Sem Rima da Maria, de Lázaro Ramos, que conquistou a atenção dos pequenos com sua narrativa.

A importância da leitura também foi destacada por Keity Barbosa, 39 anos, mãe de uma das crianças participantes. “A leitura é tudo. É muito importante, porque ajuda as crianças a se expressarem melhor e entenderem coisas que, às vezes, nós mães não conseguimos passar”, comentou.

Confira as fotos da ação:

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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