22 de março é Dia Mundial da Água. Por falar nela, a situação de acesso à água potável nas favelas do Rio de Janeiro é preocupante. De acordo com pesquisa da Rede Favela Sustentável, mais de 270 mil moradores de favelas no município têm o fornecimento de água interrompido pelo menos duas vezes por semana (2023). Esse número representa 17% do total de moradores de 15 comunidades analisadas pela pesquisa na cidade do Rio.
No Vidigal, um dos motivos para o problema da falta de água é a ocupação desordenada do território, o que dificulta o abastecimento em determinadas localidades. Ainda, o fator desperdício (consciente ou não) é outro agravante que acaba até mesmo por paralisar o serviço de distribuição. Um simples vazamento ou uma boia de caixa d’água com defeito podem prejudicar muito essa logística.
Para Claudio Lima (66 anos), engenheiro civil, morador do Vidigal, o trabalho conjunto entre a empresa de saneamento e os moradores é o caminho para uma prestação de serviço mais satisfatória. Trabalhando há 40 anos no saneamento e tendo acompanhado toda a expansão do sistema na comunidade, ele afirma:

“Os moradores podem adotar várias atitudes que ajudam a melhorar o serviço, como o uso consciente da água, evitando desperdícios. E sempre que identificarem vazamentos na rede, nos acionar para solucionar o problema. Os vazamentos em caixas d’água, que acontecem muito devido à falta de boia, podem auxiliar no desabastecimento. Por isso, é importante que os moradores realizem manutenções preventivas das suas caixas d’água para garantir um abastecimento eficiente”.
O cozinheiro Carlos André Ferreira Batista (mais conhecido como Deco), de 52 anos, morador do 314, compartilha da opinião de Cláudio e vê que o caminho para a melhoria é a conscientização da população local quanto ao consumo de água.

Ele, que é cria do morro, passou por todas as fases dessa transformação. Já carregou muita água e ouviu de seus parentes as histórias de como era difícil ter acesso a água nos tempos antigos. Hoje em dia, ele vê que um uso consciente desse recurso previne a possível escassez.
“Minha avó e mãe, nos anos 60 e 70, antes de ser construída a caixa d’água principal na subida da rampa do 314, tinham que buscar água e lavar roupas numa área onde existia um poço d’água, próximo ao Hotel Vip ‘s (bem distante de casa)”.
“Nos anos 90, também tive que buscar água na caixa d’água na subida do 314. Eu possuo duas caixas e tento fazer coisas que gastam água nos dias em que ela está caindo – terças, quintas e sábados. Eu não vejo reclamações sobre falta d’água na localidade onde moro. Ter uma caixa de, no mínimo, 1000 litros já é o suficiente para o morador não sofrer com falta d’água”, afirma Deco.