Para mudar a realidade é preciso dar o primeiro passo, assim como fez Wellington Cardoso, 32, morador da Nova Brasília e fundador do projeto Surf no Alemão. Ele conta que a ideia nasceu há quatro anos, na porta de seu trabalho, no Cinema da Nova Brasília, quando uma criança descalça e sem camisa apareceu lhe pedindo ajuda. Wellington sensibilizou-se com a situação e decidiu ajudar da forma que podia. “Na época eu estava indo buscar a minha prancha, perguntei para o menino se gostaria de ir à praia comigo. Ele me perguntou se poderia levar alguns amigos, respondi que sim, falei para ele ir à escola e se comportar bem durante a semana. No sábado levei ele e os amigos até a praia da Barra. Ficaram encantados com o surf e comecei a levá-los todos os sábados, com algumas condições, que eram: estudar, não ficar brincando até tarde na rua e respeitar os pais”, lembra Wellington.
Inicialmente, Wellington comprava pão com mortadela para as crianças, e juntos, iam de ônibus até a praia da Barra. Com o passar do tempo pessoas começaram a ajudar o projeto. “André Menezes foi a primeira luz que recebi. Ele é um surfista surdo, que já ganhou prêmios, como o tricampeonato estadual, quarto lugar numa competição no Hawaii e foi bicampeão em Santa Catarina. Nos conhecemos através de sua esposa, quando eu estava contando a minha história, no caso, a história do Surf no Alemão. Eu nunca imaginaria que aquela mulher seria esposa de um grande surfista. E foi ele quem me apresentou o Cades”, revela.
O Cades (Centro de Aprendizado e Desenvolvimento do Surfe) é o primeiro centro técnico de surf do Rio de Janeiro. Localizado no Recreio dos Bandeirantes, tem o intuito de promover a qualidade de ensino, desenvolvimento e acessibilidade ao esporte. “Lá fui abraçado por todos. Falaram que eu era um guerreiro, gostaram da minha iniciava e liberaram professores e materiais para as crianças terem aulas. Começamos a receber doações e dávamos uma ajuda de custo para o Cades”.
Após assistir a uma matéria sobre o Surf no Alemão, exibida em 2012, no RJTV, o surfista brasileiro mundialmente conhecido, Phil Rajzman, 32, que é o primeiro Brasileiro campeão mundial de Long Board, ficou maravilhado com o trabalho e desde então, tornou-se padrinho do projeto.
No mês de fevereiro a equipe do Jornal Voz da Comunidade acompanhou um dia de aula e teve a oportunidade de conhecer Luiz Carlos, 42, instrutor de surf e skate do Cades. Para Luiz, o surf tem o poder de transformar vidas. “Perdi meus pais muito jovem, me envolvi com drogas e foi o surf que me libertou. Devo minha vida a esse esporte. Através dele eu tive oportunidades, viajei, realizei sonhos e peguei altas ondas no Peru e na Indonésia. Hoje o meu foco é o Hawaii e tudo indica que irei conquistar ainda esse ano”.
Luiz é um exemplo de superação para as crianças do Surf no Alemão. Ele conta que para o projeto melhorar faltam algumas coisas, como um patrocínio e transporte, para que as crianças possam ir em outros dias da semana, além do sábado.
O professor voluntário do projeto é Fabio Maffei Quadra, 33, que trabalha no Cades há 5 anos. Fábio possui licenciatura e bacharelado em educação física e pós-graduação em psicomotricidade. Conta que realiza esse trabalho por amor as crianças e ao surf. “Tenho esperança de que com esse primeiro título mundial que o Gabriel Medina conquistou, o Brasil fique focado nesse esporte e ajude projetos como o Surf no Alemão”, declara, otimista.
Os alunos aproveitaram o mar “flat” da Praia da Macumba para um dia de treino tranquilo. A aluna Beatriz Esteves, 12, está no projeto há quatro anos e conta o que mudou na sua vida depois do surf: “Aqui aprendi que devo estudar mais, obedecer meus pais e não ficar na rua até tarde. Eu amo o surf e quero seguir com ele a minha vida toda”, diz.
Para Vinicius Oliveira, 12, morador da Nova Brasília e aluno há três anos, depois do surf ele se tornou uma pessoa melhor, é apaixonado pelo mar e diz que a sensação ao subir na prancha é indescritível, algo que ele só sente quando surfa. Para ele a praia é o lugar onde encontra a paz, e o seu maior sonho é ser surfista profissional.
Jonathan Ximenes, 14, explica que com o projeto ele aprendeu a ter disciplina no dia a dia, a respeitar as pessoas e a natureza e ter uma vida cotidiana saudável. “Meu sonho é ter um transporte adequado, gostaria de ter mais aulas, para ter um melhor desenvolvimento no surf”, revela Jonathan.
O que o Surf no Alemão precisa atualmente é de um patrocínio, um transporte para os alunos, lanches e um psicólogo para acompanhar o desenvolvimento das crianças.
Wellington coordena o projeto sozinho e sofre quando não consegue levar as crianças para as aulas. “É maravilhoso ver as crianças surfando. Sinto uma alegria tamanha em poder fazer isso por eles. O que eu quero é dar uma direção, mostrar que eles podem conquistar o mundo conhecendo novas culturas, e dessa forma, torná-los cidadãos do bem, que queiram ajudar uns aos outros”, finaliza.
Por: Luana Melo