Soltar pipa é uma brincadeira muito comum nas favelas e, apesar de representar riscos para quem pratica a atividade, ainda é muito comum ver adultos e crianças empinando e correndo atrás delas para recuperá-las. No Vidigal, por ser praticada bem acima do costão da Niemeyer, na beira do mar, essa brincadeira se torna mais perigosa. Muitas vezes, as pipas que são “cortadas” acabam seguindo na direção das pedras e as crianças vão atrás delas. Por estarem olhando na direção das pipas, ignoram o perigo.
Em julho de 2020 acabou acontecendo uma tragédia com dois meninos que, infelizmente, perderam suas vidas tentando pegar pipas que caíram no costão rochoso da Niemeyer, bem em frente ao Vidigal. Durante o inverno as pedras ficam mais úmidas e isso proporciona um maior acúmulo de lodo (limo), o que deixa as pedras ainda mais escorregadias e perigosas. E isso acabou contribuindo para que essa fatalidade acontecesse.
Essa caso gerou muita comoção e também uma grande mobilização para resgatar os corpos que desapareceram no mar depois do afogamento. O Corpo de Bombeiros enviou homens e equipamentos para ajudar nas buscas, mas diante da grande dificuldade para encontrá-los, um grupo de mergulhadores experientes da área também se juntou nas buscas.
Um desses mergulhadores é Eduardo Batista de Farias, supervisor de manutenção, de 45 anos, que também pratica caça submarina e mergulho autônomo (modalidade que usa um cilindro de oxigênio para permanecer mais tempo submerso), nas horas vagas. Por ter a técnica e o equipamento adequados para o resgate, Eduardo acabou tendo uma participação fundamental nesse triste episódio.
“Foi uma experiência trágica. Eu estava no trabalho no dia e fui avisado que duas crianças haviam caído no mar, correndo atrás de pipa, e morreram. Na hora eu fiquei desesperado porque achei que fossem os dois filhos de um amigo meu.Já era final de tarde e, como era inverno, quando escurece mais cedo, não tivemos tempo de entrar no mar naquele momento. Diante disso, mobilizei o grupo de mergulhadores do qual faço parte para iniciarmos as burcas no dia seguinte bem cedo”, explicou Eduardo.
Eduardo, que é mais conhecido por Edu, relatou também como foi triste e traumatizante o momento em que finalmente os corpos dos dois meninos foram localizados e resgatados. “Nós já sabíamos que, muito dificilmente, encontraríamos eles vivos. Mas, mesmo assim, mobilizei os mergulhadores. Logo que amanheceu, já fizemos uma varredura por todo o costão e não encontramos nada. Resolvemos entrar na água (Eu, Pintado, Juan, Marquinho Cachorrão e Átila) e depois de alguns minutos o primeiro corpo foi localizado pelo Átila, que me avisou e eu, mesmo estando com o equipamento adequado, tive muita dificuldade para chegar até lá e resgatá-lo. Foi uma experiência terrível. Logo depois disso, os outros mergulhadores saíram da água, para descansar, e eu fiquei. Cerca de 30 minutos depois, como que por um milagre, fui conduzido até o outro corpo pela corrente marítima e, mesmo com o meu oxigênio no fim, ignorando normas de segurança, resgatei o segundo corpo porque tinha prometido para mãe que acharia o filho dela”, finalizou Edu.
Lembrando que, se for soltar pipa, não utilize linha com cerol, que é proibido por Lei, e esteja em um ambiente firme e seguro.