Projeto Autonomia faz a diferença no Complexo do Alemão

Se a intenção do Projeto Autonomia, uma metodologia de ensino diferenciada, é, além de diminuir a distorção idade-série, estreitar a relação do aluno com o professor, é possível dizer que a diretora Lilian Arnaus, do Colégio Estadual Barão de Macaúbas, de Inhaúma, já conseguiu este feito. Com dedicação e experiência, ela dirige duas salas “fora” da unidade escolar, no Complexo do Alemão, que funcionam como uma extensão do colégio.

“Depois de passar pelo Projeto como professora, obtive experiência suficiente para levar à comunidade duas salas do Autonomia, que associam-se ao projeto ‘A escola vai à comunidade’, com o objetivo de uma maior integração entre a escola e os moradores deste local”, explica a diretora.

A associação de moradores pleiteou a presença do programa na comunidade. Atualmente, as turmas têm aulas no Casarão da Cultura, que conta com uma sala de aula, um banheiro e um pequeno almoxarifado.

“Tentamos recriar um espaço idêntico ao da unidade escolar. O local possui infraestrutura adequada às necessidades do educando.

Ao ar livre, no pátio, são realizados eventos, reuniões e lanches comunitários. A relação com os alunos é de total comprometimento e responsabilidade. Buscamos disseminar a ideia de hominização numa região em vias de pacificação. Os alunos são nossos maiores colaboradores na propagação de informações de projetos e ações sociais que melhorem a qualidade de vida na região”, afirma Lilian.

O Projeto

A coordenadora do Projeto Autonomia, Rosana Mendes, explica que o principal objetivo do programa é corrigir a defasagem idade-série dos alunos da Educação Básica com idade mínima de 15 anos no Ensino Fundamental e de 17 anos no Ensino Médio. São 80 mil vagas a serem preenchidas até o ano que vem. Atualmente, mais de 31 mil alunos já são atendidos.
“Há dois tipos de aluno: o vulnerável, que está com um pé dentro da escola e outro fora, que vive o desafio constante de se manter no colégio porque ele não se identifica com aquele lugar, e há aquele que já está fora deste ambiente. O projeto visa trabalhar esses alunos. A Lilian é uma diretora que viveu a sala de aula do Autonomia, uma educadora obstinada, dessas que fazem a diferença, sempre buscando desenvolver e criar novas possibilidades no ensino”, explica a coordenadora.

O Autonomia é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) e a Fundação Roberto Marinho. A metodologia conta com sistema de telessalas implantadas nas escolas e os alunos têm quatro horas diárias de aula. Um único professor orienta cerca de 30 alunos de idades diferentes.

Rosana acrescenta que, com o Projeto, alunos que, anteriormente, não eram “desejados” em sala de aula pelos professores mudaram de comportamento e se tornaram pessoas mais comprometidas com a escola.

“É uma mudança incrível porque esses alunos passam a ter uma atenção especial daquele professor. Dificuldades que antes não eram percebidas são detectadas durante o Projeto”, diz.

A metodologia consiste em duas disciplinas por módulo no Ensino Fundamental, com duração de 12 meses, e três no Ensino Médio, com duração de 18 meses. Antes de cada módulo, os professores passam por uma formação de 40 horas.

Depois da pacificação, o direito de ir e vir

Com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em algumas áreas da cidade do Rio de Janeiro, novas possibilidades surgiram, de acordo com Rosana Mendes. No caso do C.E. Barão de Macaúbas não foi diferente.

“Com as UPPs é possível transitar livremente pelas comunidades sem o menor problema. Antes não funcionava assim e os professores entravam para dar aula sem saber se poderiam sair. Isso dificultava bastante”, lembra Rosana.

A diretora Lilian Arnaus conta que, anteriormente, utilizava-se como resposta para questões referentes ao baixo índice nas avaliações internas e externas, a justificativa de que a comunidade era carente e acometida de violência. Com as UPPs, ela vislumbra novos horizontes.

“Após a pacificação, tal justificativa não é cabível e torna-se possível e prático a aplicação de um projeto que possibilita o acesso e intercâmbio escola-comunidade. O Complexo do Alemão anseia por ações voltadas para o resgate da cidadania promovida constitucionalmente através da educação. O projeto ‘A escola vai à comunidade’, com a implantação das turmas do Projeto Autonomia, hoje é abrigado num lugar que outrora era uma área violenta e inviável para inclusão de uma parte da unidade escolar. Alcançamos um maior número de pessoas com as ações sociais promovidas pela unidade escolar junto às associações de moradores e turmas do projeto”, afirma Lilian.

Há nove anos atuando na área de educação, a diretora se orgulha em participar do Projeto Autonomia. Ela conta que é visível o grande número de alunos buscando a matrícula no Projeto e a participação dos professores dentro da comunidade viabilizou o conhecimento da realidade social dos alunos e suas famílias.

“O interesse dos alunos em uma educação continuada, a diminuição da evasão escolar, perceber que os alunos tornaram-se mais críticos, atuantes e com responsabilidade social são pontos muito positivos”, diz a diretora, que está sempre pensando em novos

desafios. “Espero que o trabalho desenvolvido pela unidade escolar alcance mais pessoas. Já temos lista de espera de alunos que aguardam nova entrada no projeto. Temos espaços sendo disponibilizados para receber o projeto Alfabetizando Brasil. Gostaria de expandir o projeto com turmas de ensino regular ou profissionalizantes utilizando as bases do projeto ‘A escola vai à comunidade’”, vislumbra Lilian.

FONTE: Conexão Professor

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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