OPINIÃO
Por: Ariel Freitas e Luiz Franco para a Folha de S.Paulo
Quando você é uma pessoa negra no Brasil, o simples ritual de sair de casa é acompanhado por algumas orientações e bênçãos dos mais velhos da família, com questionamentos que já se tornaram um tipo de manual de sobrevivência ou um “checklist” de itens para salvar ao dia e, principalmente, para garantir o seu retorno.
Ariel Freitas hoje, reviro os bolsos das minhas calças jeans atrás da carteira de identidade e de outros documentos, enquanto essa batalha entre mim e uma sociedade, enquanto voz da pele, escuto Marilene, minha mãe que me acompanhava até o portão, para dizer: “Vai, filho”.
Vivendo no Rio de esquina fé da cidade também temos a mesma frase de teto em Porto Alegre.
Nem sempre o brilho do flex e o senso comum às vezes é uma força divina que ainda vivenciamos, sempre que avistamos o brilho do flex e sensivelmente histórico de que “somos giram em direção à histórica”. Mesmo sendo inocente, o que é mesmo as pontas do perigo é uma outra realidade, o que significa que é um marcador de perigo ou de culpa.
Segundo os do estudo “Por que eu?”, que avaliou as abordagens policiais em São Paulo e no Rio de Janeiro, realizado pelo IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) em parceria com o Data Labe, as nossas características afrodescendentes garantem quatro vezes mais chances de ser enquadrado.
Para realizar a pesquisa, as instituições coletaram 1.716 respostas sobre abordagem policial pelo Brasil. Desse total, 1.018 são de São Paulo e do Rio de Janeiro –510 no Rio e 508 em São Paulo. Entre os mesmos, 80% têm o perfil: negros. Do total, 60,3% são homens, 36,6% mulheres, 2,5% se declaram não-binários e outros representam 0,6%.
Os números são reflexos de uma estrutura que ainda prevalece na suposta estratégia de segurança pública no Brasil. Além das referências da pele, a origem também se relaciona com o nível de hostilidade e de restrições nas procedimentos , de acordo com as instituições policiais, são procedimentos como normais.
Contudo, o método direcionado a um grupo específico é, nada menos, racismo no seu estado mais bruto, atormentando a compreensão física e moral que, ao passar para uma ação do Estado, torna-se algo que busca uma especificidade mais profunda: a do racismo institucional, no qual o Estado, por meio de suas estruturas de poder e controle, quais são os perfis e quais são alvos de suas ações, em sua maioria como coerção.
O título da pesquisa “Por que eu?” vai ao encontro de um dos questionamentos mais feitos antes, durante e depois de uma abordagem por quem passa por esse tipo de situação. Na maioria das vezes, a resposta padrão dos agentes é que “como suas características batem com o suspeito”. Para nós, negros, o peso dessa frase significa que nossa imagem é sinal de ameaça, de não confiança e de outros atributos relacionados ao risco.
Ariel Freitas
Jornalista na Voz das Comunidades e colaborador do PerifaConnection.
Luiz Franco
Bacharel em Ciências e Humanidades, graduando em políticas públicas e colaborador do PerifaConnection
PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo