Quando o Rio de Janeiro sopra suas velas, é fácil se perder nos cartões postais: o Cristo de braços abertos, o Pão de Açúcar iluminado, as curvas da orla.
Mas o verdadeiro aniversário da cidade se dança nas vielas estreitas, nos becos que ecoam funk, rap e samba. Nos telhados que se confundem com o céu.
Nas favelas, o Rio não posa para foto — ele vive, respira e inventa moda.
Aqui, os morros são celeiros de sonhos. De lá saíram vozes como a de Cartola, que
conquistou o mundo, e rimas afiadas como as de MV Bill.
Das vielas do Complexo do Alemão às ladeiras da Rocinha, brotam artistas de rua,
cozinheiras de quitutes que são patrimônio, DJs que transformam lajes em pistas de dança.
As favelas são o avesso do cartão postal, mas também sua alma.
É na Maré que nascem grafites que viraram exposição internacional, e pessoas como: Boca
Rosa, Raphael Vicente e Douglas Silva.
No Vidigal que o Mirante do Arvrão atrai turistas para um abraço de vista e bebida gelada.
Até a Horta de Manguinhos, maior projeto de agricultura urbana do país, mostra: onde o
asfalto para, a criatividade não tem limite.
Neste aniversário, o Rio ganha parabéns pelas paisagens, mas a vela mais reluzente é a
das favelas.
Porque a cidade maravilhosa não seria nada sem a resistência que a mantém de pé, sem a
batida do pandeiro nas vielas, sem o talento que transforma adversidade em arte.
Feliz 460, Rio!
JEDAI
Poeta, escritor, roteirista, Youtuber e líder social. É cria da Kelson’s, na Maré, já teve poemas publicados e transmitidos na FLUP (Festa Literária das Periferias), Semana de Arte Favelada, Voz das Comunidades e Globo