Nos primeiros seis meses de 2023, escolas municipais fecharam 2.129 vezes por conta de operações policiais. Isso quer dizer que mais de 160 mil alunos do ensino fundamental foram prejudicados pela violência armada da cidade do Rio de Janeiro. Para comparar, quase o mesmo número foi registrado em todo o ano de 2022: 2.128 vezes.
‘Por que só tem operação em horário de aula?’, questiona Ramilson Costa, de 40 anos, é morador da Cidade de Deus e avô de Taylon, de apenas 7 anos, que estuda em uma escola municipal da região. Ele chuta que o neto já deve ter ficado sem aula umas 25 vezes somente este ano. “Tem vezes que ele só vai para a aula duas vezes na semana. Ele está aprendendo a ler só agora, isso prejudica muito no desenvolvimento dele. A violência armada prejudica até mais do que a pandemia prejudicou, porque nunca vai acabar”, relatou Ramilson.
O morador da CDD trabalha como atendente na Barra da Tijuca e desabafa que é desesperador quando há operação policial. Nesses dias, ou Taylon fica sem aula ou tem que sair mais cedo. “Agora o horário não é mais integral, é só até 14h20min. E como moramos só eu e ele, não tem quem possa cuidar do Taylon”, conta o morador.
“Eles [os policiais] têm que rever porque só tem operação em horário de aula, de segunda a quinta-feira. Começa 5 da manhã e as crianças estão na rua às 6. Sexta, sábado e domingo não tem operação. Por que será?”, concluiu o avô.
A Secretaria Municipal de Educação informou que tem feito esforços contínuos para garantir a segurança de alunos e de toda a comunidade escolar com o programa Acesso Mais Seguro, uma parceria com a Cruz Vermelha Internacional.
Em contrapartida, alegam que o crescimento descontrolado da violência armada, seja em operações policiais, brigas entre facções do tráfico de drogas ou disputas da milícia, é impossível que o programa pedagógico não seja comprometido.
“É surreal que tenha passado a ser parte da nossa rotina entender todo dia muito cedo se vamos conseguir abrir nossas escolas ou não porque está tendo tiroteio, operação policial, guerra de facções… Isso não pode ser normal. Tem alguma coisa muito errada na segurança pública quando a gente deixa de se concentrar no aprendizado pra poder entender se vamos conseguir abrir as unidades escolares”, diz Renan Ferreirinha, Secretário de Educação.