Na última segunda-feira (18), a Justiça do Rio recebeu a denúncia contra dois dos policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil pela morte de Omar Pereira da Silva durante a operação no Jacarezinho, em maio deste ano. Segundo a decisão, houve fraude na remoção do corpo. A operação ficou marcada como a mais letal da história em favelas, com 28 pessoas mortas.
Sobre o caso
No dia 6 de maio de 2021, na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio, com um total de nove horas de incursão na comunidade, 28 pessoas foram mortas , sendo 27 os homens que, de acordo com a polícia civil, eram “todos criminosos“, e um policial civil. A operação ficou conhecida como Chacina do Jacarezinho.
Contudo, testemunhas afirmaram que muitas das vítimas foram executadas quando já tinham se rendido, o que teria sido o caso de Omar Pereira. Laudos da necropsia apontavam, por exemplo, que um dos corpos recebeu um disparo a uma curta distância e que outros quatro foram atingidos pelas costas, indo no sentido contrário às alegações em depoimentos do policiais envolvidos.
Acusados
Os policiais civis Douglas de Lucena Peixoto Siqueira e Anderson Silveira são os primeiros réus da operação. A decisão é da juíza Elizabeth Machado Louro, que determinou o afastamento da dupla das operações da Core e a proibiu de fazer qualquer atividade policial no Jacarezinho. De acordo com a denúncia, Douglas cometeu homicídio e fraude processual e Anderson Silveira cometeu fraude.
Ao informar a ocorrência na delegacia, os policiais afirmaram que o suspeito, antes de ser morto, atirou uma granada contra eles. O policial Douglas admite no registro ter sido ele que atirou em Omar. Mas, para os promotores, não houve legítima defesa dos agentes porque as provas obtidas pelo MP indicam que o homem estava encurralado e ferido, com um tiro no pé. O documento também indica que Omar foi atingido na lateral esquerda do torso. Ainda segundo o MP, há “vestígios de disparos de curta distância”. Moradores da casa onde Omar se escondeu afirmaram ao Ministério Público que não foram feitos reféns e que o suspeito não estava armado.
Fraudes cometidas
A juíza também atendeu a uma solicitação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e exigiu que o inquérito da morte de Omar Pereira na Delegacia de Homicídios da Capital seja compartilhado com os promotores da Força-Tarefa que investiga as mortes, em um prazo de 24 horas. Isso porque, na denúncia, o MPRJ afirma que os dois policiais civis contaram com a ajuda de “terceiros” para forjar provas na cena do crime. Douglas e Anderson junto com outros policiais teriam “Implantado” uma granada no local onde Omar Pereira da Silva foi executado.
Segundo o documento, as fraudes que teriam sido cometidas foram:
- remoção de cadáver antes da perícia;
- apresentação falsa de uma pistola glock 40 e um carregador;
- inserção de uma granada que, segundo os policiais, estaria em posse de Omar Pereira.
Na ocasião, a Polícia informou que o tráfico da região adotava táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”. No dia da Operação Exceptis (como foi batizada a ação) , o delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Polícia Civil, afirmou não considerar que houve erros ou excessos na operação. O intuito era investigar o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia. Esta operação, de acordo com eles, foi planejada com todos os protocolos cabíveis, em cima de 10 meses de investigação.