Cria do Complexo do Alemão, o jogador Luiz Henrique conta sua trajetória até chegar ao futebol profissional

Jogador fala com carinho e gratidão sobre sua vida no Complexo do Alemão e de seu atual momento da carreira no futebol brasileiro

Foto: Samuel Andrade

Nascido e criado no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, mais especificamente na localidade da Fazendinha, Luiz Henrique de 22 anos é mais um jogador oriundo da favela a brilhar nos gramados brasileiros. Após quase 10 anos nas divisões de base do Flamengo, em 2020, saiu rumo ao Fortaleza, do Ceará, onde pouco a pouco vem se destacando no cenário nacional do esporte.  

Que menino nunca sonhou em ser jogador de futebol? Dentro das  favelas do Rio existem milhares de crianças que compartilham desse sonho, mas infelizmente nem todas conseguem chegar até ao status de ser um jogador profissional. Por isso, quando algum morador consegue este feito acaba sendo muito comemorado pela comunidade e vira motivo de orgulho. 

Início do sonho 

O jogador deu os primeiros toques na bola aos oito anos de idade, na escolinha do professor Ricardo, mais conhecida como Vera Cruz. Escolinha que até hoje atua no campo do Seu Zé na Fazendinha. “Com nove anos pude ir para o meu primeiro clube, chamado Magnatas, um time de futsal”. Logo se destacou, e com o “aval” de Zico foi jogar no CFZ (clube que Zico é dono), e aos 11 foi para as categorias de base do Flamengo onde ficou até os seus 20 anos de idade. Desde este início do sonho a família sempre apoiou Luiz Henrique a estar correndo atrás dos seus sonhos, atravessando todo o Rio de Janeiro com ele para que pudesse treinar. “Graças a Deus minha família sempre esteve junto comigo em qualquer momento! se hoje estou onde estou eu devo tudo a eles, principalmente a meus pais”.

Gratidão à favela 

Luiz Henrique não esconde nas suas redes sociais ou em entrevistas, o quanto gosta do Complexo do Alemão, e fala com orgulho o quanto é grato poder ser visto como referência para outros moradores a acreditarem nos seus sonhos. “É um privilégio misturado com superação! Porque na favela tem muitos moleques bons de bola mas não tem condições de seguir tentando ser um jogador de futebol. E por isso infelizmente muitos ficam pelo caminho”. E ressalta como a persistência é fundamental na busca dos sonhos. “Você tem que querer muito ser um jogador de futebol profissional, porque não é fácil não! Você vira adulto muito cedo, com responsabilidades altíssimas. Isso é o que eu acho mais difícil, e alguns acabam largando, pois não conseguem abrir mão das coisas boas da adolescência, por exemplo: festas, bailes… Muitos pensam que é tranquilo, mas a verdade é que só veem quando está lá no profissional, já com condições melhores, não sabem o antes disso tudo, e a luta pra chegar no seu objetivo”.

Carreira 

Durante toda sua adolescência e juventude, Luiz fez parte das categorias de base do Flamengo, onde ficou até fevereiro de 2020. Pelo rubro negro carioca, foram inúmeros titulos de uma gerção muito virotiosa da qual fez parte. Destaque para as conquistas da Copa São Paulo de futebol junior, Campeonato Brasileiro e Supercopa do Brasil sub-20. Em 2020, pelo Fortaleza,  o meio-campista  ganhou visibilidade no segundo turno do Brasileirão, presente  algumas vezes na seleção da rodada do campeonato. “E meu maior sonho dentro de campo é jogar na Europa, e seria melhor ainda se fosse no Manchester United. E também jogar pelo meu país uma copa do mundo. Também quero voltar onde sou nascido e criado e poder ajudar os moradores e as crianças, até porque meu pais me criaram e sempre me ensinaram isso! Valores não se ensina, valores são transmitidos, através de exemplos, gestos e atitudes, como eu sempre faço da forma que eu posso. Cpx na veia”.

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]