Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Mulheres de favela são vistas por muitos como guerreiras, fortes, que fazem de tudo pela família e criação dos filhos. Mas elas também estão na política local, fazendo a diferença e lutando pelos interesses dos moradores. Ainda são poucas, mas contam suas histórias e falam de suas lutas pela favela com orgulho e firmeza. Conheça agora três dessas mulheres que vêem na associação de moradores uma forma de fazer acontecer.
Ezidina Gonçalves é presidente da associação de moradores da Pedra do Sapo, no Complexo do Alemão. Mulher decidida e que não teme julgamentos, se tornou presidente para colaborar com a comunidade em que vive. “Me deu vontade de entrar para associação de moradores, com a intenção de ajudar a comunidade mesmo. Temos muitos problemas aqui. É com lixo, esgoto, mato, água… Senti no meu coração esse desejo. Fiquei por 10 anos, saí por nove anos e agora voltei, tem dois anos. Nunca sofri preconceito. Nunca ninguém insinuou nada e se falar, sinceramente também não me importo. O que me importa é o que eu tenho vontade de fazer, o que eu quero eu vou lá e faço. E faço de tudo para alcançar meus objetivos”.
Seu dia a dia consiste, basicamente, em resolver problemas. “Aqui, eu limpo vala, corto mato, vou para as reuniões com órgãos públicos e prestadores de serviço como Cedae, Rio Luz e Light. meu dia a dia é andando na comunidade, resolvendo os problemas dos moradores. Entregando cartas, dando declarações de moradia”. Ezidina destaca que para estar à frente de uma associação de moradores, trabalho que não é remunerado financeiramente, tem de estar disposto e querer, de fato, ajudar a comunidade. “Na minha outra temporada como presidente, tinham mais mulheres, agora só tem eu e mais uma. O que eu gosto de fazer mesmo é ajudar a comunidade. O que eu posso correr atrás para conseguir as coisas aqui para os moradores eu corro. Minha satisfação é poder melhorar a vida na favela, eu faço por amor mesmo. Pretendo continuar aqui até quando Deus quiser”.
Marilia
Marilia Tavares foi criada no Complexo da Penha e está em seu segundo mandato na associação de moradores da Chatuba. E fala sobre os desafios de estar à frente da associação. “Liderar uma comunidade, com todos os papéis e responsabilidades atrelados à função é uma tarefa complexa, principalmente no atual cenário. Meu desafio cotidiano é continuar lutando para que a Prefeitura atenda os serviços básicos dentro da comunidade, como coleta de lixo e entulho, poda de árvores, atendimento das equipes da Cedae, Rio Luz…”
Ela conta que nunca sofreu preconceito por ser líder comunitário sendo mulher, mas destaca que ainda são poucas as que conseguem assumir esse desafio. “A liderança feminina é uma realidade em crescimento. No entanto, ainda são muitos os desafios que teremos que superar em nossa trajetória. Com muita fé em Deus, vamos caminhar, lutando e acreditando em dias melhores. Conquistar o respeito da população e de outros membros de uma equipe liderada por mulheres ainda é um desafio. A mudança de mentalidade e o fim do preconceito de que a mulher não é capaz de exercer as mesmas funções que o homem precisa acontecer. Deixamos de estar com nossas famílias em prol da comunidade. Não somos reconhecidos pelo poder público mas temos papel fundamental dentro da comunidade. É a nós que os moradores recorrem quando precisam de ajuda”.
Regina
Também para Regina, presidente da associação da Favelinha da Skol, exercer essa função é sinônimo de escolha e dedicação. “É ter muito amor ao próximo, ajudar pessoas que estão abandonadas pelo poder público. Muitas delas nem conhecem os seus direitos. Meu dia a dia é muito difícil. Sou mulher, mãe e passo 24 horas do meu dia dedicadas à comunidade, com poucos recursos e muitas de casas para cuidar. Além disso, dependemos das autoridades públicas”.
A presidente fala também sobre machismo e preconceito. “Nunca tive problema de preconceito por ser mulher. Sempre admiram minha garra, força e determinação. O maior problema de ser presidente de uma associação é depender dos órgãos públicos. Muitas vezes nós não somos atendidas e os moradores às vezes não entendem. Acham que porque tomarmos a frente podemos resolver tudo. As dificuldades são muitas. Principalmente em uma comunidade como a Favelinha, em que nós não temos recurso nenhum. Existem pessoas muito carentes de tudo aqui. Por isso, venho diariamente à associação, para fazer o possível e tornar, de alguma forma, essa comunidade em um lugar melhor”.