No dia 24 de Maio, é comemorado o dia do Vestibulando, que ressalta a importância de olhar para quem estuda e para a democratização do ingresso às universidades. A data foi escolhida graças a uma manifestação ocorrida no mesmo dia em 1961, onde alunos da UNESP defenderam a ampliação dos cursos de medicina. Eles conseguiram a aprovação das leis de comemoração e de popularização dos ensinos superiores, em âmbito nacional. Mas será que depois de 63 anos essas conquistas são efetivas? Será que todos os jovens têm acesso à universidade?
Em 2023, o Instituto Pereira Passos da Prefeitura do Rio de Janeiro realizou uma pesquisa nos bairros cariocas para averiguar o Índice de Progresso Social. Enquanto nos bairros da zona sul os números chegavam a 68,69%, no Complexo do Alemão apenas 4% dos jovens estavam nas universidades ou chegaram a concluir o ensino superior. Tudo isso é bem comum de ser percebido, como relata o vestibulando Daniel de Souza, morador do Complexo do Alemão e estudante do ensino público. “Da minha sala, eu e mais 3 alunos estamos estudando para o vestibular. O restante só quer se formar logo pra sair da escola.”
Os próprios jovens enxergam essas dificuldades por falta de estímulo ou necessidade de trabalhar, pois em grande maioria são os primeiros da família a tentar entrar nas faculdades. E os membros de casa não sabem como ajudar ou se podem ajudar. Além da disparidade (contraposição) entre a sobrevivência e o estudo, onde a primeira opção tem prioridade.
Como exemplo disso, o universitário de pedagogia na UERJ, Patrick Alves, de 22 anos, cria do Alemão, contou um pouco da rotina difícil que teve na época do vestibular. “Passei pro pré-vestibular Mais de Nós, que soube que existia por causa do Voz. Saía cedo pro trabalho porque tinha que ajudar em casa. Chegava no pré e estudava até às 21h… Várias vezes eu troquei o dia pela noite.”
Embora essas realidades sejam presentes na vida dos jovens, existem iniciativas como os pré-vestibulares sociais que garantem o acesso ao ensino superior e os possibilita sonhar, coletivamente. Na entrevista com Daniel, ao ser perguntado se ele se sente na responsabilidade do sonho coletivo, ele respondeu que sonha por toda a família. “Meu sonho é me formar e ter uma condição financeira boa pra poder levar a minha avó para morar em um lugar com condições melhores de saúde pra ela.”
E o sentimento de ser uma conquista compartilhada não se refere apenas à família, mas também à comunidade por um todo. “Eu tenho necessidade de estar nos lugares de ensino para construir uma ideia de transformação, de possibilitar acesso às universidades para outras pessoas, assim como me possibilitaram”, relatou Patrick. O acesso às universidades voltam a comunidade como realização, ascensão e contribuição para ela mesma, alimentando a permanência da juventude favelada nos locais de estudo e favorecendo as possibilidades de transformação.