“Simplesmente chegaram atirando. Em criança, em todo mundo”, moradores contam como foi operação do BOPE em festa junina no Santo Amaro

Tradicional celebração, que reúne famílias há mais de 50 anos na comunidade, foi marcada por uma operação policial que deixou cinco pessoas feridas, entre elas um jovem morto
Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

Uma festa junina que acontece há mais de 50 anos no Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, foi interrompida bruscamente com uma incursão do BOPE na madrugada deste sábado (7). Vídeos mostram uma festa alegre, com muita dança, música e crianças brincando, que é subitamente interrompida por rajadas de tiros. Cinco pessoas foram atingidas, entre elas Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, que não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital Glória D’Or.

O Voz das Comunidades subiu o morro e ouviu moradores que estavam na festa. Preservando a identificação, os relatos são impactantes.

“Tinha um monte de crianças, que só queriam dançar. Era festa junina, não era baile funk. Eles simplesmente chegaram atirando em crianças, em todo mundo”.

“Eu entrei na frente, abri os braço e falei: “Você vai me dar tiro também?”. Aí ele respondeu “Sai da frente”. Como é que é? “Sai da frente”??? Tinha um monte de criança aqui, jogaram bombas de gás em cima da gente. Isso é covardia”.


“A gente precisa saber das autoridades por que eles foram praquele lugar àquela hora? Quase quatro horas da manhã”, questionou Fernando Guimarães, pai de Herus. “Quem foi que autorizou isso? A gente precisa saber! A vida do meu filho nunca vai voltar”, desabafou, já sem acreditar que os policiais envolvidos na incursão serão responsabilizados pela ação.

Herus era filho único de Fernando Guimarães. Foto: Reprodução

Um dos feridos durante a incursão foi Emanuel da Silva Félix, de 16 anos. À TV Globo, o adolescente contou que estava sentado quando os policiais do BOPE chegaram e mandaram que ele não se levantasse. “Eu não ficaria sentado vendo a bala comendo. Quando eu fui descer para avisar o pessoal, um menino que é de lá disse que não era para eu ir por uma viela porque os policiais iriam passar por lá. Quando eu voltei, a bala começou a comer de verdade. Em seguida, eu só senti a bala nas minhas costas”, relatou. Emanuel recebeu alta nesta tarde.

Outro ferido foi o cozinheiro Leurimar Rodrigues, baleado durante a festa junina. Ele segue internado. A esposa dele, Leidiane Ferreira, também falou à TV Globo sobre o momento em que os agentes do BOPE chegaram: “A gente saiu correndo. Eu fui pra um lado, ele ficou no outro. Quando vi, ele já estava caído no chão, baleado. Pra gente que mora na comunidade, é muito angustiante isso acontecer. Os policiais chegam atirando, a gente nem sabe de onde veio o tiro. Uma multidão de gente ali… acontecer isso é desesperador”, desabafou.


Na parte da manhã deste sábado, familiares fizeram um protesto, pedindo justiça por Herus. Na parte da tarde, a Polícia Civil realizou a perícia no local da festa junina. Confira fotos:

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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