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Gastronomia afro-brasileira vira projeto da UFRJ: ‘Um resgate de sonhos engavetados’, diz aluna da Vila Aliança

Curso é oferecido gratuitamente e acontece em parceria com o Hilton Copacabana e o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ)
Ana Maria, moradora da Vila Aliança e formada pelo Pretonomia Foto: Divulgação
Ana Maria, moradora da Vila Aliança e formada pelo Pretonomia Foto: Divulgação

Evidenciando África e a resistência do povo preto na Gastronomia, nasce o Pretonomia. O projeto de extensão do bacharelado de Gastronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tem como foco a diversidade dos insumos e técnicas da cozinha afro-brasileira. O curso, que teve a sua primeira turma ano passado, é oferecido gratuitamente e acontece em parceria com o Hilton Copacabana e o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ). Dos 16 alunos da turma deste primeiro semestre, seis são de favelas do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.

A idealização é do professor pós-doutor Breno Cruz – também conhecido nas redes sociais como Preto Gourmet – e criador do Prêmio e Festival Gastronomia Preta. Na vice-coordenação, o chef Pablo Ferreyra, considerado um aliado na luta pela aceleração da equidade racial por meio da Gastronomia.

Cruz explica que, por anos, foi pesquisador e esteve na lógica da produção acadêmica com livros e artigos nacionais e internacionais. “Mas o DNA da extensão universitária sempre esteve ali presente na minha formação. Nessa trajetória, fui me entendendo como homem preto nos últimos anos, percebo que a extensão universitária me ajuda a sonhar e minimamente impactar a vida de pessoas pretas que, como eu, vieram de situações de vulnerabilidades.”

Professor Breno Cruz
Foto: Lipe Borges

Ana Maria Cardoso Vianna, de 40 anos, é uma entre os seis moradores de favelas que o Pretonomia formou na última turma. Moradora da Vila Aliança, em Bangu, Zona Oeste da cidade, ela conta que já conhecia o projeto através do Breno, porque o seguia nas redes sociais, mas achava que não fazia parte de sua realidade: “Eu já tinha visto a oportunidade para a turma passada, porém, não me via encaixada nesse projeto. Via como uma coisa só para pessoas com uma bagagem na cozinha ou algo do tipo”. 

“Depois disso, prestes a fazer 40 anos, eu me dei conta de que não tenho nada palpável para deixar a meus filhos. Nem uma carreira, nem uma história para eles se orgulharem de mim, nem minha empresa de doces fortalecida, muito menos algo material. Foi aí que decidi que toda oportunidade para o meu crescimento profissional eu iria agarrar com unhas e dentes”, reforçou.

Para ela, o Pretonomia é e sempre será um resgate.

Um resgate de sonhos engavetados, empoeirados e cheios de teias de aranhas. Um resgate da minha autoestima, resgate de uma mulher linda, poderosa e cheia de vida. Uma mulher esquecida por mim mesmo.”

Ana Maria relata que, no Pretonomia, não aprendeu somente a mexer as panelas e temperar bem os alimentos: “Aprendi sobre ancestralidade, a amar mais o que faço, a acreditar em mim mesma. Aprendi que podemos chegar mais alto, se lançar sem medo naquilo que amamos, também criei uma família linda cheia de histórias e bagagens”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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