Sabe aquela pessoa que você se encanta ao conhecer? Esse é o João Vitor Nascimento. Melhor do que iniciar tentando descrevê-lo, é deixá-lo se apresentar:
“Sou fruto de um projeto da minha família. Quando eu falo em investimento é porque não tem como falarmos da gente sem falarmos de quem veio antes. Minha mãe sempre abriu mão de muitas coisas para investir nos meus sonhos.”
Um desses investimentos foi levá-lo para fazer teatro no Nós do Morro, aos 6 anos de idade. Após assistir ao espetáculo “Capoeiragem”, do grupo teatral do Vidigal, surgiu a vontade de ser ator. “Eu vi os atores tão entregues falando sobre o processo de escravização e resistência. Eu achei aquilo incrível e quis fazer parte. Fiz o teste e passei”.
Desde então, João Vitor Nascimento participou de campanhas publicitárias, atuou em várias peças e filmes. Um desses trabalhos foi a série Mais X Favela, exibida no Multishow, durante 2011 e 2014. O ator, que na época tinha apenas 12 anos de idade, viveu o Júnior, personagem que era filho do atrapalhado chefe da família, vivido por outro vidigalense, Babu Santana.
No entanto, o talento de João Vitor não se encerra na arte de atuar. O jovem de 25 anos, cria do Vidigal, mais especificamente, da área do 314, jongueiro, também canta, dança, dirige, recita poesias e as escreve. É o realizador do Sarau Sankofa, que ocorre no Vidigal.
A tradição do grupo teatral que o lançou prega o seguinte: aquele que passa pela instituição se torna um multiplicador. Foi o que aconteceu com o João Vitor. Atualmente trabalha como assistente da Fátima Domingues, sua ex-professora de teatro, na preparação de atores e formação de elenco. Dá aulas de teatro nesse grupo teatral e em um projeto para crianças da Rocinha. Há 5 anos fundou o Grupo de Teatro Vozes, no Cantagalo, favela de origem da sua família paterna.
E a multiplicidade do João Vitor não para por aí. É possível vê-lo nas telas de TV, como jornalista do programa Bom Dia, Favela, exibido diariamente na Band.
“Esta é uma oportunidade da gente falar da gente. Nosso propósito não é falar de brutalidade, mas de potências da favela.”
João Vitor está na fase de ensaios de sua nova peça em construção conjunta com seus alunos de teatro do Nós do Morro. O espetáculo, com estreia prevista para final de fevereiro, conta a história de duas famílias tradicionais do Vidigal que rivalizam. Enquanto uma defende o comércio exacerbado e a especulação imobiliária; a outra é contra a gentrificação. A ideia do grupo é contar a história do morro através da figura central de um griot.
O espetáculo ainda não tem nome. O que sabemos é que se depender do talento e dedicação de seu diretor, a peça será um sucesso. Assim foi seu último espetáculo Ecos Intrusivos, com o grupo Vozes, que lotou o Teatro do Vidigal, no final de 2023.
“Fazer arte na favela é aquilombamento. É o resgate do som que ecoa dos tambores do terreiro. É ‘empretecer’ a arte. No choro do berimbau nas rodas de jongo e capoeira, na oração fervorosa da igreja vizinha, em tudo há arte. Não tem como falar de arte na favela sem falar de território.”