Em meio a uma das mais intensas crises sanitárias de todos os tempos, governos de todo o mundo, estão assumindo providências firmes contra o alastramento do vírus Covid 19. O presidente francês Emmanuel Macron caracterizou a situação como uma “guerra sanitária”; a primeira ministra da Alemanha Angela Merkel declarou que este é o maior desafio para Alemanha desde a segunda guerra mundial; o próprio presidente Donald Trump, que no início chegou a desdenhar da magnitude da pandemia, também falou em tempos de guerra. Países como Espanha e Itália despertaram tarde para a gravidade da pandemia e enfrentam agora uma crise catastrófica com difícil controle de contágio e mortes. Na América do Sul, as decisões de fechar fronteiras, suspender voos internacionais, assim como aulas e grandes eventos, é quase unânime. Na Argentina, aqueles que violarem o isolamento serão responsabilizados criminalmente.
Embora seja uma crise de saúde pública, não econômica, ela gera efeitos severos na economia. Além das providências em conter o contágio do vírus, países ao redor do mundo estão tomando as decisões cabíveis para conter a crise econômica. Nos EUA, o governo suspendeu execução hipotecária e despejos até o final de abril. O Reino Unido anunciou a garantia que também suspenderá pagamentos de hipotecas por três meses e injetará bilhões em ajuda direta e subsídios a pequenas empresas além de isenções fiscais por um ano. Na Espanha, para ajudar a população, o governo estabeleceu uma ajuda monetária sobre pagamentos de hipotecas, ajuda financeira a trabalhadores independentes e empresas com perdas graves, isenção de pagamentos à previdência social e suspensão de pagamento de água e serviços de internet.
Brasil
Já no Brasil, a responsabilidade de tentar amenizar contágio do Coronavírus coube aos governos estaduais que gradativamente estão tomando decisões prudentes. A iniciativa de fechar shoppings, limitar restaurantes a apenas serviços de entrega, suspender aulas em escolas e universidades, interromper linhas de transporte público e serviços de aplicativo, veio das gestões estaduais, visto o descaso do atual presidente Jair Bolsonaro acerca da pandemia. O Ministério da Saúde vem trabalhando de forma séria no combate ao novo coronavírus e mesmo submetido ao governo federal caminha de forma oposta ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro. Uma pesquisa do Datafolha publicada na segunda-feira (23/03) aponta que no quesito de condução da pandemia, a avaliação do presidente é bem pior do que a dos governadores e a do próprio ministro da Saúde, que por sua vez possui 55% de aprovação da população.
O presidente Jair Bolsonaro minimiza a crise, sugere que a população está sendo enganada, ataca a mídia, reforçando a descrença na imprensa, acusando-a de reproduzir informações fantasiosas, deslegitima e critica publicamente as decisões dos governos estaduais que buscam conter a propagação do vírus, classificando-as como exageradas e geradoras de desemprego. Desde o início da pandemia, o presidente vem protagonizando inúmeros disparates: classificou o novo vírus como “gripezinha e histeria”, logo no início insuflou manifestações públicas em seu favor (no dia 15/03), embora a orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) fosse a de evitar aglomerações e manter isolamento. Além disso, o presidente segue divulgando informações distorcidas e errôneas para população que em tempos de crise carece de informações claras. Mesmo com o esclarecimento da ANVISA, de que o medicamente cloroquina ainda está em fase de teste e que seu uso não é ideal para o combate ao Coronavírus, o presidente postou no seu perfil oficial do Twitter que a cloroquina seria a possível cura do vírus e que haveria ampliação da produção deste medicamento no Brasil. No último domingo (22/03), Jair Bolsonaro publicou no Diário Oficial uma Medida Provisória que autoriza a suspensão do contrato de trabalho por 4 meses, no período os trabalhadores deixam de trabalhar e os empregadores suspenderiam seus salários, apenas mantendo benefícios, como plano de saúde. Em uma de suas redes sociais oficiais, Jair Bolsonaro defendeu a medida alegando que busca prevenir a demissão de trabalhadores e que poderia haver negociação entre empregador e empregado. A medida foi imediatamente rechaçada pela população e seria possivelmente negada pelo Congresso Nacional. Antes de ser levada ao Congresso, na tarde de segunda-feira (22/03), menos de 24 horas depois da publicação da Medida Provisória, Jair Bolsonaro a revogou.
Claramente, o presidente Bolsonaro age de forma incompatível com a realidade brasileira de pandemia, reforça preocupação maior com a economia e estabilidade do empregador e de empresas, negligenciando a situação de vulnerabilidade da população. O Brasil hoje possui um quadro particular de empregabilidade jamais visto anteriormente. Atualmente, 41,4% do mercado de trabalho é composto por trabalhadores informais (aqueles que não possuem vínculo empregatício como Uber, entregadores de comidas por aplicativo, ambulantes), para esses o presidente reservou um “auxílio emergencial” no valor de apenas 200 reais mensais, o equivalente a aproximadamente menos de 7 reais por dia – tal remuneração é incompatível com o atual custo de vida no país.
Ainda que seja tudo bastante prematuro, é visível uma retração na economia mundial e brasileira. A desmobilização de várias cadeias produtivas, como comércio e turismo, trará inúmeros problemas para a economia, que posteriormente devem ser tratados como prioridade para o Estado. Porém, neste momento a Saúde pública deve ser colocada em primeiro lugar, e os efeitos na economia como secundários. O bem estar-social da população em termos econômicos também deve ser prioridade para o governo. O Estado deve funcionar com assistência, voltado aos interesses do povo, não aos interesses de mercado, o plano neoliberal de Jair Bolsonaro não sustenta a população em tempos de crise. O Estado deve governar para o bem de toda sociedade, para prover o bem comum, em vez de ser o instrumento das elites. As formas com que o presidente conduz a situação de pandemia, negligenciando a população, aparentam que para ele o trabalhador transita por duas escolhas: morrer de fome ou ser contaminado por um vírus, o que para muitos é letal.