Como é ter coronavírus e morar em um lugar com ampla possibilidade de disseminação da doença? Essa é a experiência de Raquel Cardoso, 36, moradora do Morro do Borel, na Tijuca, zona norte do Rio. Por trabalhar em clínica de saúde privada, Raquel foi testada e começou a apresentar os sintomas no início de abril. O filho, de um ano e sete meses, também teve sintomas, mas ambos já se recuperaram.
Ela começou a apresentar diarréia e, logo depois, dores no abdômen. Como em muitos casos, perdeu o olfato e o paladar. A moradora relata dias angustiantes. “Eu me sentia muito cansada, mesmo parada”, conta. Conforme os dias passavam, ela diz que os sintomas pioravam. “Comecei a sentir dores nas costas e meu pulmão parecia queimar. Fiquei desesperada, pois estava isolada sozinha.”
Raquel não tem nenhuma doença pré-existente, mas é fumante e por isso fazia parte do grupo de risco, em caso de agravamento dos sintomas. “Foram dias difíceis, de muitas incertezas e medos, porque é uma doença que você não sabe o que pode acontecer.”
Hoje, a moradora diz que se sente aliviada em não carregar mais o vírus e por saber que não vai contaminar quem ama. “É um grande alívio, porém, veio junto uma crise de ansiedade e síndrome do pânico”, revela.
Em outra comunidade, na Rocinha, o jornalista Edu Carvalho, 22, conta um pouco como foi a experiência dele. A maior favela do Brasil está localizada na região de São Conrado e próxima ao Leblon, bairros da zona sul que figuram no ranking dos lugares com mais infectados.
No caso de Carvalho, a falta de ar foi o sintoma que mais preocupou o jovem e fez com que ele se dirigisse ao hospital. Ele conta que atividades de rotina e simples eram um tormento. “Eu me sentia muito cansado. Pegar um copo de água era um problema”, diz. “Minha mãe ficou muito preocupada, porque eu já tive alguns problemas de saúde.” Para o jovem, o medo se instalou, porque “é uma doença que a gente não tem cura ou vacina.”
Questionado sobre como é estar livre do vírus, ele é categórico: “Acho que só posso comemorar quando não tiver mais mortes nas favelas e periferia por causa da Covid-19.”
O painel de monitoramento do Voz das Comunidades mostra que a Rocinha lidera o número de casos de infectados entre as favelas cariocas notificadas pela prefeitura do Rio. Até ontem, as comunidades monitoradas registravam mais de 1590 casos. Crédito: reprodução
O Morro do Borel não consta na relação de números de contaminados no Painel Rio Covid-19, da prefeitura, mesmo com a confirmação do caso de Carozo. Na favela, é possível encontrar moradores que não cumprem as medidas de proteção, como uso de máscaras e distanciamento social.