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“Eu vi a morte de perto”: moradora da Vila Kennedy suspeita ter contraído Covid-19

Apesar de apresentar vários sintomas da doença, Beatriz Ferreira não foi testada quando buscou atendimento na UPA da Vila Kennedy
Beatriz Ferreira, de 32 anos, moradora da Vila Kennedy que teve coronavírus. Foto: acervo pessoal
Beatriz Ferreira, de 32 anos, moradora da Vila Kennedy que teve coronavírus. Foto: acervo pessoal

Beatriz Ferreira, de 32 anos, moradora da Vila Kennedy, zona Oeste do Rio de Janeiro, suspeita ter contraído Covid-19. Em abril, ela apresentou sintomas da doença e procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não foi testada. O novo coronavírus atinge as pessoas de diferentes formas, há casos leves, moderados, casos graves e até sem sintomas. Beatriz teve os sintomas da doença, como dor de cabeça intensa, dores no corpo, cansaço, febre alta, tosse, falta de ar, ausência de paladar e olfato. “Eu fiquei muito mal, eu vi a morte de perto e falo isso sem exagero.”

Após uma semana com os sintomas, que pioravam com o passar dos dias, Beatriz decidiu ir ao médico e buscou atendimento na UPA da Vila Kennedy. Mesmo sem forças, ela optou em não pegar nenhum tipo de transporte até a UPA e, apesar de morar próximo, teve dificuldade para chegar. Beatriz desabafou que durante o percurso foi alvo de diversos olhares que incomodavam. “Os olhares na rua eram estranhos, foi horrível, as pessoas sabiam que eu estava mal. Eu estava mais magra, fraca, não conseguia andar sem sentir falta de ar.”

Diante do desespero que vivia naquele momento, a busca por ajuda médica acabou gerando mais angústia. E uma situação vai ficar marcada na vida dessa moradora. Durante as etapas de atendimento ocorreu troca de plantão que resultou no descaso vivido por Beatriz. “O médico falou para mim que eu estava gorda, muito acima do peso e não conseguia ver o meu raio-x. Eu perguntei se tinha que fazer outro e ele disse que não, eu achei estranho. Perguntei se ia fazer o teste de Covid, ele também disse que não, que se eu piorasse era para voltar. Como eu ia piorar?, eu já estava com falta de ar, com febre, dor no corpo, tontura, não conseguia comer… Ele disse que era tudo psicológico e começou a falar ‘a Rede Globo vai matar vocês, bando de alienados, tudo que passa na televisão vocês acreditam. Eu vou morrer, você vai morrer. A doença está aí, 70% da população vai pegar, uns vão resistir, outros não, depende do organismo. É uma doença mundial, não tenho o que fazer por você’. Eu queria ter filmado o médico falando comigo, foi horrível. Eu só queria um atendimento direito, agora eu tenho medo de médico, perdi a confiança”.

Um dos fatores que impedem uma análise mais precisa dos casos de Covid-19 no Rio de Janeiro é a baixa realização de testes. Na cidade do Rio, a prefeitura fez menos de 50 mil testes. A falta de diagnóstico também gera incerteza aos pacientes, como Beatriz, que não sabe se contraiu o coronavírus por não ter sido testada mesmo com o quadro sintomático. 

O medo do novo coronavírus sempre esteve presente no lar da moradora da Vila Kennedy devido à letalidade da doença e, por isso, Beatriz tentava tomar os cuidados necessários. A recuperação foi em casa, com muitas lágrimas, dor e esperança de viver pelas filhas que estavam longe e pelo esposo, que também teve sintomas da Covid-19. A maior preocupação dela era contaminar as filhas, que fazem parte do grupo de risco. “Assim que comecei a me sentir mal, eu falei para o meu marido levar as crianças para a casa da minha sogra. Tenho uma filha de 10 anos com deficiência imunológica e uma de 13 anos com bronquite, então fiquei desesperada. É o que eu falo pra todo mundo, essa doença não é brincadeira.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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