O fenômeno dos moluscos invasores, como o caramujo africano, é um tema preocupante para a biodiversidade e saúde pública, especialmente em regiões urbanas como o Complexo do Alemão. A introdução dessa espécie – como tentativa de diversificação gastronômica em décadas passadas – resultou em efeitos adversos, incluindo o risco de transmissão de doenças.
Os moradores do CPX acabam se deparando com os caramujos em áreas de convivência, como escadas e córregos. Gabriell Henrique, de 20 anos, morador do Morro do Adeus, destaca a proliferação desses moluscos em períodos de frio, o que agrava o risco de contato humano. “Eu já vi alguns perto de casa, eles sempre aparecem quando o clima está mais úmido”.
Malacologia é a área da biologia que estuda os moluscos. A chefe do Laboratório de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz, Silvana Thiengo, explica que o medo em relação aos caramujos, frequentemente é baseado por mitos, muitas vezes subestimando a necessidade de evidências. Além disso, a pesquisadora explica os riscos de ingerir moluscos.
“Os caramujos africanos transmitem a meningite eosinofílica quando ingeridos, ou seja, o contato com eles são prejudiciais quando levam a mão em contato com a boca ou olhos”, e continuou falando de outras espécies, “(…) também existem os de água doce, conhecidos como planorbídeos, que podem transmitir a esquistossomose também conhecida como barriga d’água”.
Silvana explica que os dois também transmitem doenças através da mucosa que deixam por onde passam. “Então é importante ficar de olho por onde esses moluscos contaminados pelos parasitas passaram”. Ela recomenda ainda que lave frutas, legumes e verduras “com uma colher de sopa de água sanitária e deixando de molho”, detalha.
A moradora Claudia Silva utilizou veneno para matar os caramujos, como ela nos relatou. “Eu vi que tinha caramujos perto de casa e logo fui comprar o veneno na loja de ração aqui perto. Joguei de longe pra não encostar neles”.
Essa prática pode ser arriscada se realizada de maneira inadequada. A especialista reforça a importância de utilizar luvas e cuidados para evitar contaminação. Silvana Thiengo explica que métodos alternativos, como a solução de água e sal para desidratação, são menos danosos ao meio ambiente.
Em junho, a Fundação Oswaldo Cruz confirmou um caso de meningite em Nova Iguaçu. O caso foi a terceira contaminação registrada, os outros dois foram comprovados em 2014 durante estudos. Há registros de moluscos contaminados em outros estados além do Rio de Janeiro, a Fiocruz realiza constantes pesquisas relacionadas ao tema.