Cerca de 30 guias de turismo de diversas favelas do Rio de Janeiro se reuniram na manhã deste sábado (24) na Casa Voz do Vidigal para um encontro com o presidente da Embratur, Marcelo Freixo. A iniciativa foi organizada por Rene Silva, fundador e CEO do Voz das Comunidades, com o objetivo de conectar os profissionais do turismo comunitário à esfera federal, ampliando o diálogo e ouvir demandas dos profissionais das comunidades.
Durante o encontro, guias das comunidades do Santa Marta, Babilônia, Penha e de outros territórios apresentaram suas principais dificuldades, como a falta de infraestrutura, a burocracia para se formalizar e a pouca visibilidade que o turismo de favela ainda recebe. “O turismo nas favelas não é só passeio, é economia, é cultura viva”, destacou Rene Silva. “O guia local movimenta o comércio, valoriza os artistas e mostra a potência da comunidade.”
Marcelo Freixo ouviu os relatos com atenção e reconheceu os desafios enfrentados pelos guias. “O que vimos hoje foi um desabafo, mas também um chamado à ação. Precisamos pensar estratégias que apoiem, valorizem e deem visibilidade ao turismo de favela, porque ele é uma parte autêntica e essencial da experiência carioca”, afirmou.




Os participantes ressaltaram que, apesar de muitos dominarem idiomas estrangeiros e estarem preparados para receber turistas do mundo todo, o turismo de favela ainda é tratado como algo opcional. “Sabemos que o cartão postal do Rio de Janeiro é o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, mas a verdadeira cara do Rio está nas favelas. É lá que estão os cariocas que fazem e movimentam a cidade, com a cultura, essência”, afirmou Thiago Firmino, guia de turismo local do Morro Santa Marta.

“Hoje o turismo das comunidades organizado na rede hoteleira em contato com os conselheiros e isso a gente sente falta. O que é praticado hoje deixa o mercado muito fechado e o turismo comercial de massa ficam nas empresas que não abre espaço pra gente. E por não abrir espaço as favelas, hoje dominaram a cena. dominaram esse nicho. Estamos no auge hoje porque o turista está olhando mais para a favela, mas a gente precisa do suporte da Embratur pra termos mais visibilidade”.


Do Morro da Babilônia, também na Zona Sul da capital, Edson Wander é guia de turismo e falou sobre a importância do protagonismo dos guias de turismo de favela. “A favela não é só pobreza. A gente sabe disso, e o que a gente quer mostrar é a potência dela. Existe um luxo dentro da favela — que são as pessoas que fazem ela, a história que ela conta, os projetos sociais que ela tem, a gastronomia que ela cultiva. A gente leva alguns turistas que, depois, chegam pra gente e falam: ‘Cara, eu tava pensando totalmente errado sobre o território.’ E é esse o impacto que a gente causa nas pessoas. Nós desmitificamos a favela. E isso nunca será feito por alguém que não é do território como nós somos. Essa é a minha bandeira.”