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Somos todos Caio de Moraes

Morte de Moto-Taxista completa 2 anos nesta sexta-feira (27) de maio

ALEMÃO – Caio de Moraes da Silva era um jovem de 20 anos, morador da comunidade do Loteamento, Nova Brasília, lugar onde ele exercia o que mais amava fazer, ser moto-taxista. Caio trabalhava no moto-taxi da Nova Brasilia, bem próximo de onde morava com sua família, e foi lá onde dedicou parte do seu tempo, levando milhares pessoas aos seus destinos. Foi exercendo seu dever que Caio foi alvejado e morto no interior da comunidade onde viveu por muitos anos. Caio foi baleado com um tiro nas costas no interior da comunidade da Grota, C. Alemão. O disparo? Foi efetuado por um policial militar de uma das Unidades de Policia Pacificadora do conjunto de favelas. O motivo? É o que queremos saber. Até hoje familiares de Caio briga na justiça querendo então a condenação do agente que efetuou o disparo. O moto-taxista levava uma passageira para o interior da comunidade, onde no local, um grupo de manifestantes corriam fugindo das milhares de bombas e tiros de borrachas, que os militares disparavam para dispersão da multidão. Caio foi surpreendido pela multidão e no momento disparos de armas letais foram efetuados para o interior da comunidade. Em questão de segundos nossas redes foram encharcadas de mensagens de que Caio havia sido atingido, corro eu para o Upa do Alemão, ainda sem saber que se tratava de um amigo. E tem sido então a realidade dura dos moradores do Alemão. Noticias e mais noticias de mortes, feridos, etc. De amigos, colegas, conhecidos e também familiares. Uma guerra sem fim, onde todos podemos ser a próxima vitima. Hoje lembramos de Caio por conta de sua morte, fator que sem querer encobre quem realmente foi o moto-taxista. Um jovem feliz, sorridente, alegre e muito brincalhão. Caio era familiar, tinha um filho pequeno. Sempre com sorriso no rosto, Caio se enchia de orgulho toda vez que ia para o seu trabalho. Ao passar em frente a empresa que sua mãe trabalhava, aquela buzinada era de lei. E isso era a forma de dizer para sua rainha, “Eu te amo”. Foi duro para ela, para seus amigos, pros seus colegas de duas rodas que hoje no dia em que se completa 2 anos de sua morte, fazem uma homenagem singela mas verdadeira e forte. Caio arrastou uma multidão em seu cortejo. Lembrado como amigo, irmão. Sua morte foi dura, mas criou dentro de cada morador o espirito de luta pela sobrevivência. Sua mãe, hoje é uma guerreira, que luta sempre pela justiça de quem tirou a vida de seu filho. E isso se tornou cada vez mais comum para os moradores de favelas do Rio. Lutar! Sempre lutar. Essas mortes cada vez mais comprovam que estamos todos correndo risco, todos nós podemos ser a próxima vitima. Bandido, Policia, moradores.
Lembraremos de você, Caio, pelo seu sorriso, pelas suas risadas, pelo buzinaço que fazia ao passar pela rua, pelo o que você foi. Porque somos todos Caio de Moraes.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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