Faço-me essas perguntas todos os dias. Penso que diariamente temos que nos reinventar para buscar entender melhor as necessidades da comunidade a qual escolhemos oferecer e apresentar os serviços públicos de saúde.
De fato, vivemos muitos desafios em nossa rotina, mas, jamais podemos esquecer o que nos trouxe a esse lugar. Antes, quero poder esclarecer a vocês, leitores, qual é o nosso papel enquanto trabalhadores do Sistema Único de Saúde.
Atuamos em unidades conhecidas pela comunidade como “Clínicas da Família” ou “Postinho”. O modelo de saúde que oferecemos foi definido em nosso país como a principal porta de entrada do cidadão aos serviços de saúde. Esse modelo é conhecido como “atenção básica”. Atualmente, ampliamos esse conceito para “atenção primária à saúde”, cujo objetivo é atuar em um determinado território geográfico, o qual foi devidamente mapeado a fim de identificar pontos prioritários que deverão ser trabalhados pelas “Equipes de Saúde da Família”, de maneira continua, de modo que as equipes sejam capazes de resolver em torno de 80% das necessidades da comunidade.
Muitas pessoas criticam esse modelo, acredito, por não entenderem profundamente como ele funciona. O objetivo de uma “Equipe de Saúde da Família” ― que é formada por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde ― é atuar dentro de um espaço geográfico delimitado, para que os profissionais possam atender as necessidades de moradores durante as diversas fases de suas vidas, ou seja, desde o nascimento até sua velhice.
Com esse modelo de atenção, buscamos conhecer os reais problemas do território que foi delimitado pela equipe a fim de criar estratégias de intervenção para as quais a ajuda dos moradores é fundamental. Não se pode construir ou reconstruir processos sem ajuda daquelas pessoas que vivem ali todos os dias. Exemplo: Uma mãe que cria seus filhos sem ajuda de um companheiro e está desempregada. Se ela for a um médico que não conhece suas reais “condições”, e esse profissional orientá-la a dar legumes e verduras aos seus filhos e frutas após as refeições, você acha que ela poderá seguir tais orientações? Claro que não! O médico e a enfermeira da equipe, juntos, traçarão estratégias para que essa mãe possa alimentar seus filhos de acordo com a realidade financeira em que vive.
Outro exemplo é o hipertenso (pressão alta) que, todas as vezes em que passava mal, buscava as emergências dos hospitais, era medicado e, em seguida liberado sem uma prescrição médica adequada ou orientações alimentares. Sua pressão tornava a subir.
A Equipe de Saúde da Família visita as famílias e conhece os hábitos alimentares dos seus usuários. Dessa forma, a intervenção e as orientações são diretas e efetivas. Ou seja, tratamos a causa e não somente o problema.
Outro objetivo importante do nosso trabalho é a educação que promovemos com os cadastrados daquele território. Ao conhecer as necessidades daquela comunidade, buscamos através de grupos de educação em saúde, sensibilizar os moradores acerca de algumas práticas inadequadas à realidade deles. Os grupos de crianças são um exemplo disso. A equipe se reúne com responsáveis por crianças de uma determinada faixa etária e explica como prevenir acidentes, como tratar de problemas comuns da infância e promove o crescimento saudável daquela criança. Nesse espaço, podemos trocar experiências e ajudarmos uns aos outros.
Paralelo a isso, as equipes também possuem como atribuição acompanhar os alunos que estudam nas escolas de seu território de atuação. Busca-se com essas ações acompanhar a saúde dos escolares, integrando-se à educação.
Você deve estar se perguntando: Onde posso ser atendido em caso de urgência? Também pensamos nisso. Cada uma de nossas equipes é capacitada para atender pequenas urgências e caso necessário, direcionará você para outra emergência de maior complexidade. Vamos citar um exemplo: Há dois dias, um adulto apresenta dor intensa no joelho após uma queda praticando esportes. Primeiramente ele deve procurar por sua equipe e ser examinado por seu médico.
Agora você deve estar se perguntando sobre o papel das emergências, certo? O papel das emergências é receber os casos em que a “atenção primária” não tem autonomia para resolver. Neste caso, a equipe é instruída a pedir uma ambulância, que após tomar conhecimento sobre o quadro clínico do cidadão, irá encaminhá-lo para o serviço de emergência mais próximo.
Conhecendo um pouco mais sobre esse modelo de atenção, você pode compreender porque temos que delimitar os territórios e dividir um pedaço para cada equipe cuidar? Atualmente, contamos com vinte e cinco Equipes de Saúde da Família, que assistem 100% das famílias do Complexo do Alemão.
Nosso objetivo é que todo o Rio de Janeiro tenha acesso a esse modelo que busca não somente conhecer os problemas daquele território, mas apresenta a potencialidade e a força que essas pessoas têm, e junto delas promove qualidade de vida a essa população.
O objetivo desta leitura é convidar você a conhecer o que realmente somos. Nosso propósito é saber que juntos podemos ser, juntos podemos querer e juntos podemos ir.
“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar.”
Paulo Freire
Texto escrito por: Janaina Vianna Balmant, Gerente CMS Alemão