Mais de 300 mil pessoas. Esse é o número de candidatos que, segundo o MEC, inscreveram-se mas não pagaram a taxa do Enem 2020 de R$85. O prazo original para efetuar o pagamento terminou no dia 28 de maio, mas agora os estudantes poderão gerar um novo boleto e quitá-lo até o dia 10 de junho. E foi a partir disso que nasceu o projeto “Pretos no Enem”, iniciado pela publicitária Lyara Vidal no Twitter, que ajuda a conectar “padrinhos” e estudantes negros ou indígenas pelo Brasil.
“Eu dei o empurrão inicial na ideia, mas não esperava que fosse tomar essa proporção. Eu li essa matéria que falava que 300 mil pessoas não conseguiriam fazer o Enem por não pagar a taxa de inscrição, então me ofereci pra ajudar pagando o boleto de dois pretos ou pretas que me seguissem no Twitter. Digo dois porque é o que cabia no meu orçamento. Um amigo ali se oferecendo para pagar um, outro querendo pagar outro, isso virou uma corrente gigantesca! O Luan Alencar, que mora em Juazeiro do Norte e também é podcaster, teve essa disposição de jogar o projeto para frente e deixar ele com uma cara de oficial“, diz Lyara.
O “Pretos no Enem” já conta com 74 voluntários, que se dividem entre criar conteúdo para as redes sociais, responder e manter contato com os mais de 11 mil padrinhos, organizar planilhas, divulgar para pessoas e instituições e captar estudantes. O apadrinhamento acontece pelo Instagram e não solicita contas bancárias, doações, vaquinhas ou transferências. Para ser ajudado, basta mandar uma mensagem pelo direct contando um pouco da história, trajetória de vida e do porquê essa ajuda significa tanto para você.
Mais padrinhos que estudantes
A onda de generosidade foi tão grande que o projeto tem 10 mil padrinhos aguardando novos vestibulandos que precisam da ajuda. Lyara conta que diversas histórias emocionantes já foram recebidas: “recebemos mensagens de pessoas desempregadas querendo ajudar, pessoas querendo contribuir com o auxílio emergencial. Sabemos que isso só mostra a desigualdade do país e o reflexo de um esforço imenso, que nem deveria acontecer. Mas também mostra como o brasileiro também tem o coração bom e cheio de empatia“, afirma a idealizadora do projeto, que também faz o podcast “Indo e Voltando”, voltado para a cultura nordestina.