Colaboração: Beatriz Diniz
Usar máscara é obrigatório porque estamos passando por uma pandemia. Mas, o que é uma pandemia? Pandemia é o surto de doença infecciosa que se espalha entre a população numa grande região geográfica como, por exemplo, o mundo todo. O novo coronavírus está espalhado assim, por isso, algumas medidas de proteção devem ser obrigatórias. E na favela, será que o uso obrigatório das máscaras foi inserido na vida dos moradores?
Entre moradores do Complexo do Alemão, por exemplo, há divergências em relação ao uso de máscara. A Iolinda Gonçalves, moradora da Alvorada, não vê a necessidade de usar: “Eu não uso, me incomoda, por causa da rinite e eu não gosto. Não tenho medo de pegar Covid. O que eu mais vejo é todo mundo sem ou usando errado, colocando no queixo. Para dizer que não uso, apenas quando vou ao mercado pois para entrar é obrigatório”. Apesar da preferência por não usar máscara, Iolinda usa em locais em que não é permitida a entrada sem máscara.
Já o Romilson Luiz, morador da localidade do Loteamento, mesmo sentindo incômodo ao usar a máscara, acha certo o uso obrigatório: “Eu botei o pé na rua, já coloco a máscara. Eu sinto falta de ar e mesmo assim não deixo de usar. Eu penso em primeiro lugar na minha família, quando chego ali na Brasília e vejo tanta gente sem máscara, eu não tenho medo de morrer, mas eu cuida da minha família”. Mesmo sentindo falta de ar com a máscara, o Romilson prefere usar para proteger a família dele.
A Cristina Rodrigues, moradora da Fazendinha, começou a usar a máscara mas desistiu: “O presidente não usa e pegou corona, o governador usou e pegou corona, os artistas não usam, fica tudo em festa aglomerado. Aqui mesmo se você andar pelas ruas ninguém usa, vai multar na favela? O certo seria o isolamento social, dando o apoio financeiro para os moradores, eu tive que trabalhar, não tive isolamento, pego ônibus cheio, vejo no jornal a praia lotada, a obrigação é para um ou para todos?” A escolha da Cristina por não usar máscara, ainda que baseada no argumento lógico de que pegou corona quem não usa e quem aparece em público usando (não sabemos se quem usa em público não usa em situações privadas), acaba por fazer com ela fique desprotegida e leve o corona para dentro de casa ou do trabalho. Por outro lado, é muito importante o que ela diz sobre poder andar em ônibus, trem, barcas ou metrô lotados, porque autoridades permitem então que trabalhadores corram o risco de se contaminar em aglomerações no transporte coletivo.
O uso de máscara é uma medida de proteção contra o corona, porque evita que o vírus entre no nosso corpo pela boca e pelo nariz e evita também que pessoas contaminadas passem o vírus ao tossir, espirrar ou falar. Usar máscara durante a pandemia não é uma escolha pessoal nem uma questão de preferência: é uma necessidade diante de uma grave situação que afeta a saúde de muitas pessoas. Mesmo assim, tem quem não use, seja porque não sabe a importância nem a função da máscara, seja por escolha individual ou até mesmo por não ter dinheiro para comprar.
Vale ressaltar que o uso constante de máscara em larga escala tem como base a proteção coletiva, ou seja, a proteção de todos nós. O corona é um vírus novo que causa uma doença nova, a COVID-19, que pode levar à morte, dar sintomas leves ou até mesmo não dar nenhum sintoma. Em todos os casos, quem está com o corona pode transmitir o vírus para outras pessoas. E a máscara é a forma de evitar a transmissão de quem está com o vírus para quem ainda não foi contaminado.
Usar máscara então é o novo normal. Mas se adaptar a esse novo normal não é fácil, ainda que seja necessário, e requer muitas explicações para entendermos direitinho a função da máscara e a importância de seu uso. Como prefeituras, governo estadual e governo federal não estão investindo em campanhas informativas fica mesmo difícil entender bem os motivos do uso obrigatório de máscara.
Todos nós temos direito a ter uma opinião. Mas o uso obrigatório de máscaras não é uma escolha pessoal, ao contrário, é uma atitude de proteção própria e de cuidado com familiares, amigos e colegas de trabalho. E o uso de máscara só é uma obrigatoriedade porque é necessária para a saúde e o bem estar de todos. Se a maioria escolhesse não usar máscara não ia ter UPA nem hospital público ou privado para dar conta de tratar de todas as pessoas ao mesmo tempo. O problema é que o coronavírus se espalha muito facilmente, e já sabemos que o vírus entra no nosso corpo pelo nariz e pela boca, por isso que usar máscara vai além da escolha pessoal, porque ajuda a diminuir a rapidez da transmissão do corona e a exposição ao vírus de muitas pessoas ao mesmo tempo.
Opiniões divergentes à parte, o melhor é que todos possam usar máscara e saibam os motivos para o uso ser obrigatório. Como o coronavírus e a COVID-19 são novos, tudo está sendo estudado e descoberto durante a pandemia. Não há certezas sobre a imunização nem o tempo que ficamos imunes ao vírus depois da contaminação. Há várias iniciativas de vacinas, que ainda estão em testes, então, o que podemos fazer é evitar o corona. E usar máscara é uma das formas de evitar o coronavírus e a COVID-19.
O uso obrigatório de máscara no Rio de Janeiro está determinado por lei do governo estadual, aprovada em junho e com validade enquanto durar o estado de calamidade pública. É obrigatório o uso de máscara em locais públicos, como nas ruas, e locais privados de acesso coletivo, como shoppings e estabelecimentos comerciais.
Já na cidade do Rio, o uso obrigatório de máscara nas ruas e em estabelecimentos abertos ao público foi determinado pela prefeitura em abril. De 5 de junho a 11 de agosto, a prefeitura aplicou 5.093 multas por descumprimento das medidas de combate ao novo coronavírus, das quais 3.959 foram pela não uso da máscara.