No processo do Mc Poze, desembargador menciona excesso da mídia, liberdade de expressão e milhões roubados do INSS

Peterson Barroso, da Primeira Vara Criminal de Jacarepaguá, determinou a soltura e o cumprimento de medidas cautelares pelo artista
Foto: Reprodução

A Justiça do Rio concedeu habeas corpus para MC Poze, preso desde o dia 29 acusado de “fazer apologia ao tráfico”. O cantor é cria da favela do Rodo e traz suas vivências nas letras enquanto um jovem que já teve envolvimento com o varejo de drogas e atualmente utiliza sua arte para conscientizar seus semelhantes sobre o caminho certo a seguir. No texto da decisão, o desembargador Peterson Barroso fez críticas a alguns elementos da prisão.

Para o desembargador, o processo policial não foi regular e Poze foi tratado “de forma desproporcional”. O artista foi preso em sua casa na manhã da última quinta-feira (29) e não teve o direito de vestir uma camisa e calçar um chinelo. Além disso, os agentes policiais já chegaram no local com a imprensa. Na decisão, Peterson ainda definiu liberdade de expressão para afirmar que Poze teve seus direitos violados. No texto ele afirma que “a liberdade de expressão é um direito fundamental e garante a todos o direito de se expressar”. Além de ressaltar que “o que se diz sobre apologia ao crime pode não ser exatamente isso”.

O desembargador também afirmou que para combater o varejo de drogas é preciso prender quem comanda as negociações. O que não é o caso do MC Poze, que é apenas um cantor. O texto também traz um paralelo importante em relação a outros tipos de crime: enquanto aqueles que roubam o INSS de idosos não precisam se preocupar com uma responsabilização, um jovem negro “que trabalha cantando e ganhando seu pão de cada dia” é preso.

A decisão é um passo para que Poze acesse a justiça depois de tantas violações. O caso mostra o quanto a cultura favelada ainda é criminalizada e o quanto jovens negros sempre serão violados independente do status social. Poze do Rodo deve liberado durante a tarde.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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