Medellín e Rio de Janeiro são cidades que compartilham mais semelhanças do que diferenças. O projeto Universo das Vozes iniciou sua primeira etapa no Rio de Janeiro, estabelecendo uma ponte cultural e profissional entre Medellín, na Colômbia, e o Rio, no Brasil. A iniciativa visa explorar e compartilhar histórias das comunidades locais por meio de diferentes expressões artísticas — como literatura, ilustração, música e fotografia — com foco em temas cotidianos e desafios comuns. Universo das Vozes é fruto de uma parceria entre Universo Centro (Medellín) e Voz das Comunidades (Rio de Janeiro) para realizar residências binacionais, promovendo intercâmbios culturais, artísticos e sociais entre as duas cidades. O objetivo é criar um mosaico global de identidades culturais, promovendo um diálogo contínuo entre Medellín e Rio de Janeiro.
No auge da crise em Medellín, entre o final dos anos 80 e início dos 90, as favelas do Rio inspiraram projetos sociais locais, como o Favela/Bairro, que influenciou intervenções nas comunas colombianas. Anos depois, o Rio tentou adotar soluções urbanas de Medellín, como o metrocable e os parques-bibliotecas, mas sem o mesmo sucesso.
Os representantes selecionados da ONG Voz das Comunidades foram: Natália de Deus, João Victor Vitória, Gabriela Conc, Tamires Aragão e Leticia Gonçalves. Já pelo Universo Centro, participaram Juan Fernando Ospina, Pascual Gaviria, Estefanía Carvajal, Alexander Jiménez, Santiago Rodas, Sandra Barrientos e a intérprete Lina.
O ponto de partida do roteiro foi a compreensão do processo de favelização no Rio de Janeiro, explorando tanto a formação geográfica desses territórios quanto a dinâmica de suas economias locais, além de iniciativas que resistem por meio da cultura, da organização social e do ativismo.
A recepção aconteceu na região central do Rio, com a caminhada e a história sendo contada pela jornalista e guia local Thayná de Souza, seguindo o trajeto do Cais do Valongo, Morro da Providência e Candelária, onde aconteceu o Festival Marielle deste ano.
Os encontros seguintes aconteceram no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com uma programação que levou os participantes a diferentes pontos da comunidade. O percurso teve início no teleférico da Central e seguiu pelo Educap, Ponta dos Pés, Coletivo Papo Reto, MEEA e Casa Voz do Alemão, onde foram recebidos por Rene Silva e toda a equipe do Voz das Comunidades. Além disso, exploraram a região da Nova Brasília, passando por suas ruas e comércios locais, e conheceram espaços importantes como o CineCarioca e a Nave do Conhecimento. E teve oficina de Tambor com os atabaques na Tenda de Umbanda Falangeiros de Luanda.
A troca de experiências entre o jornal impresso Voz das Comunidades e o Universo Centro provocou debates, destacando tanto as diferenças quanto os pontos em comum entre suas produções. Enquanto o jornal de Medellín se caracteriza por uma abordagem literária e narrativa, o Voz das Comunidades foca na cobertura de notícias quentes e factuais quanto ao Portal de Notícias, e mais frias quanto ao Jornal Impresso. No Rio, os jornalistas colombianos mergulharam na realidade local, entrevistando moradores, registrando imagens e conhecendo de perto os projetos sociais, ao mesmo tempo em que exploravam novas formas de escrita.
O intercâmbio cultural terminou com visitas à Rocinha e ao Vidigal, favelas localizadas na Zona Sul do Rio. Os participantes conheceram projetos como o do Tio Lino, Acorda Capoeira e a galeria Wark Rocinha, além de explorar a história local. No Vidigal, a Casa Voz Vidigal foi o ponto de partida para entender a geografia e os projetos sociais da comunidade.
O mural
É a primeira arte permanente da ONG do Voz das Comunidades no Alemão, mas algo que mexeu com todos, e agora, pensa em ser algo contínuo. A comunidade local será integrada em todas as etapas do projeto, desde a coleta de histórias até a criação de arte, com a promoção de oficinas e eventos comunitários. A intervenção artística no muro perto da Escola Municipal Professor Affonso Várzea, na Avenida Itaoca, no coração do CPX, foi feita sobre um bueiro.

A imagem, inspirada em uma feira livre, traz tangerinas vibrantes, com uma fruta sendo transformada em porta-moedas. A obra atraiu a atenção de todos, com pessoas na rua elogiando e cumprimentando os artistas enquanto o trabalho acontecia. Era impossível não notar o mural, que se destacava de forma marcante no território.