A nossa praia – Por: Monica Puga
Foi um domingo daqueles! Os termômetros marcavam mais de quarenta graus mas a sensação térmica ultrapassava, fácil, os cinquenta.
Como tantos outros moradores da zona norte, decidi me refrescar na praia. Um mergulho no mar geladinho seria o melhor programa. E o metrô, a melhor maneira de chegar até lá. Quando embarquei o vagão estava vazio mas foi só parar no Estácio para o trem lotar. E foi digno daquelas cenas do metrô japonês que assistimos de olhos arregalados na televisão. Ainda bem que não tinha ninguém empurrando do lado de fora.
Jeniffer, Andressa e Charles, todos com menos de sete anos, entraram e se apertaram pertinho de mim. E foi a Jeniffer que, rapidamente, ocupou meu colo, o único lugar disponível por ali. As crianças, alvoroçadas, estavam acompanhadas da mãe, avó, o, a, vizinhos, uma turma grande que trazia bolsas com comida e um grande isopor para as bebidas. Apertados, um segurando no outro, ouvindo pagode bem alto, seguimos para nossa aventura. Porque é, sim, uma empreitada chegar ao mar!
Durante a viagem conversamos bastante. Vinham todos lá das terras onde manda o Playboy, o conhecido traficante que é hoje o mais procurado pela polícia do Rio. Um lugar muito quente e com poucas opções de lazer. Lá em Costa Barros, o domingo fica sem sendo quando não dá pra dar um pulinho na praia.
As crianças falavam sem parar. A avó, dona Ines, a todo momento mandava que se segurassem bem. Jeniffer era a única aconchegada e segura no meu colo. Já estávamos na zona sul quando a mãe me disse como as crianças esperavam ansiosas pelo passeio. Em tempos de muitos confrontos na região do Morro da Pedreira e nas favelas da Quitanda e Lagartixa, nem dá pra brincar fora de casa. E faz muito calor, desabafou a mãe, enquanto enxugava a testa com a toalhinha azul.