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Floresta Urbana #artigo

“Somos do Alto da Boa Vista e temos orgulho de dizer que não existe lugar melhor no mundo para se viver!”. Ao som desse samba-enredo (1988), do Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Unidos do Alto da Boa Vista – chamado carinhosamente de Unidos da Curtição –que eu cresci. Rennan Leta, 22 anos, poeta, escritor, estudante de jornalismo, integrante do Coletivo Poetas Favelados e cria da comunidade Mata Machado, no Alto da Boa Vista.

Quem nunca passou pelo caminho que liga a Tijuca à Barra e ficou encantado com as vistas paradisíacas ou com medo das inúmeras curvas? O bairro, que tem pontos turísticos como a Vista Chinesa, Pedra da Gávea, Pedra Bonita e a famosa Floresta da Tijuca, naturalmente reflorestada em 1861 a mando de D. Pedro II, já foi historicamente habitado por figuras importantes, como José de Alencar e Nicolay A. Taunay. O bairro é dividido em pequenas e médias comunidades: Agrícola, Biguá, Butuí, Furnas, Gávea Pequena, Maracaí, Mata Machado, Taquara e Tijuaçu somam cerca de 20 mil moradores.

É na comunidade do Mata Machado, que eu cresci e moro até hoje. Além dos inúmeros programas culturais, o local também é conhecido pelos bares e restaurantes. Em 1974, no Mata Machado, foi fundado o Unidos da Curtição, que está ativo até hoje e desfila no Grupo 1 dos Blocos de Enredo do Rio de Janeiro.

– Eu moro aqui desde que nasci, em 1948. Aqui era uma enorme chácara de agrião, tinham poucas famílias, tinha criação de porco, boi, era uma roça. Melhorou da água pro vinho. Quanto ao bloco, quando nós fundamos era um bloco de embalo chamado de Unidos da Curtição e só depois de alguns anos que virou bloco de enredo e foi federado. Sempre foi movido pela comunidade, nunca teve patrocínio, é um trabalho desde sempre da comunidade. Hoje desfilamos na Av. Chile, no Centro. – conta José, popularmente conhecido como “Tuca”, um dos moradores mais antigos da comunidade e um dos fundadores do Bloco.

Atualmente o ambiente sociocultural da comunidade conta com poucos recursos e apoios, tendo que contar com a perseverança dos moradores que quiserem realizar algo. Aula de Capoeira, Teatro, Zumba e Artes Marciais são dadas por pessoas que tentam trazer uma melhor perspectiva de vida para os mais jovens.


No ano de 2017 tivemos as primeiras edições do Sarau do Topo, evento artístico em que é realizada a competição de poesia falada Slam do Topo, que em 2018 dará vaga para o campeonato estadual de poesia falada, o Slam RJ.

O clima de tranquilidade e paz que há no coração da Floresta da Tijuca não foge muito da realidade da cidade e também enfrenta problemas: transporte escasso, falta de projetos sociais, problemas com a distribuição de água e apenas um pequeno posto de saúde localizado no bairro trazem a realidade que é morar na favela.

– Muito se fala sobre as UPPs hoje em dia, mas aqui temos o DPO há 50 anos, desde o tempo da Polícia Civil fardada. Aqui sempre foi um lugar muito tranquilo, mas é claro que a gente está começando a sofrer o reflexo do que acontece no resto da cidade. Mas a violência ainda não é um problema para nós, o índice de criminalidade é praticamente zero. Aqui falta é escola de segundo grau, serviço de saúde emergencial, porque onde esses serviços são oferecidos é longe. Muita gente já morreu porque o socorro demora e até levar para o hospital, não dá mais tempo. O transporte público também é um grande problema para quem mora aqui no Alto. Mas nesses quase 70 anos que moro aqui, vi muita mudança. Temos uma favela-bairro concluída, sem problemas de saneamento básico e toda asfaltada. – disse “Tuca”.

Quando questionado se gosta de morar aqui e qual é a principal qualidade da região, Tuca sorriu e respondeu que poucas pessoas no mundo têm oportunidade de morar dentro de uma floresta urbana. Ele não trocaria esse lugar por nada. Tuca se encanta com a forma em que todos se conhecem e com a pouca rotatividade de moradores. A maioria das famílias que vivem aqui atualmente são as mesmas da época em que ele chegou. Um local que reúne várias gerações.

Nessa mistura de calmaria e desenvolvimento, onde amanhecemos com o canto dos passarinhos e dormimos com o som do funk alto, o Alto da Boa Vista segue sendo um dos lugares mais visitados por turistas e amado por quem mora nele. O sentimento de resistência, a busca de melhores condições para a região e os acontecimentos serão contados no jornal Voz das Comunidades.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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