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Crônica | A copa da favela

Hoje é sábado. Dia de um futebolzinho com a galera lá na quadra no topo do morro. Tô só esperando minha mãe preparar aquele pão com ovo para eu encontrar a galera.

  • Marcos, não fica muito tempo na rua e toma cuidado. E trate de arrumar o seu quarto quando voltar, anda vem cá me dá um beijo!
  • Tá, mãe.

São 10:50h e o sol não está tão forte. Coloco a minha havaianas e pego a minha bola quase descascada, já que me falta uma chuteira do Messi e uma bola do Brasileirão, mas quem liga? Aqui nós joga descalço e tudo valendo um refrigerante bem gelado do bar do Alceu, tem coisa melhor?

  • Ae Marquinho, essa tua blusa do Flamengo falsificada hahaha.

Luquinha insistia em dizer que a minha blusa era falsificada, mal sabia ele que meu pai comprou lá no shopping da zona sul, tem até a marca de original.

  • Falsificada nada, seu vacilão. Meu pai comprou na zona sul. Bora jogar logo! Eu quero ímpar!

Escolhi o Feijão e o Gordinho para o meu time. Luquinha ficou com o Thomás e o Bruninho. A minha blusa do Flamengo me fazia parecer o Diego, fazia até gols semelhante.

Estava 3 a 3, empatado. Meu time precisava desempatar! Escuto de longe um barulho, mas estava tão concentrado que ignorei e decidi seguir.

Street fooball no Trieste Stadium - Imagens Antônio More / Copyright © Todos os direitos reservados
Street fooball no Trieste Stadium – Imagens Antônio More / Copyright © Todos os direitos reservados

Eu corri tanto que comecei sentir uma dor no peito do nada, não conseguia nem correr mais. Desisto de jogar.

Lá de longe vejo a minha chegando na quadra gritando o meu nome e indo em direção ao gol, lá estavam os meus amigos e umas pessoas que eu nunca vi na vida. Todo mundo em círculo, parecia uma reunião.

Sem entender, vou lá ver o que estava acontecendo, minha mãe estava no centro do círculo. Gordinho e Bruninho só choravam, chego mais perto e minha mãe está segurando um garoto muito parecido comigo, era eu. O vermelho que estava no meu peito não era da blusa do Flamengo.

Era fim o fim jogo.

 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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