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Com vocês, o gari Sorriso do Alemão!

Ele se chama Aloísio Caetano de Carvalho e tem 34 anos. Pelo nome, provavelmente você não o conhece, mas aposto que esse rosto você já viu em alguma comunidade do Complexo do Alemão e sempre com a felicidade estampada. O Perfil do Alemão deste mês chega com toda a simpatia do Gari Sorriso.

Após a publicação do edital do concurso público, Sorriso já sabia que uma das vagas seria dele e depois de fazer todos os processos, incluindo as provas teóricas e práticas, lá estava ele com o uniforme em mãos e a carteira assinada. Desde 2010 faz a limpeza e distribui simpatia no Complexo do Alemão. “Acho interessante trazer a simpatia aqui para o morro. Gosto de brincar com crianças”, comenta.

Mesmo com o “laranjão” da COMLURB, muitos moradores ficavam acoados e monosilábicos. O trabalhador diz que muitas pessoas ignoram a presença dos garis e na maioria das vezes fingem que eles nem existem. Sorriso conta que durante um dia de trabalho estava efetuando a limpeza de uma parte da comunidade, quando uma criança o enxergou e entregou uma flor. “Aquilo me comprou. Vi que estava na hora de mudar o quadro e decidi quebrar o tabu do silêncio”.

Participou do programa “Esquenta!”, da apresentadora Regina Casé e fez muitas amizades com famosos, incluindo o xará de apelido e profissão, Renato Sorriso. (Foto: Arquivo pessoal)
Participou do programa “Esquenta!”, da apresentadora Regina Casé e fez muitas amizades com famosos, incluindo o xará de apelido e profissão, Renato Sorriso. (Foto: Arquivo pessoal)

Geralmente o gari varre olhando para o chão e mesmo que você dê um bom dia, só fica naquilo. O gari vive em silêncio, apesar de ser uma profissão de trabalho em conjunto, vivemos muito solitários. Queria mostrar que a profissão é boa e que podemos trabalhar felizes. Foi aí que comecei a ‘dar uma de maluco’. Cumprimentava todo mundo na maior intimidade. Eu já estava me sentindo muito na parede, e na marra mostrei que era o Sorriso do Alemão”, revela.

Sorriso já foi segurança, mas diz que não estava dando mais para exercer a profissão. “Segurança tem que ser sério. Como uma pessoa que tem o apelido de Sorriso vai ser sério? Não dá”, brinca, ao lembrar da época em que tinha que fazer cara de mau e raramente conseguia.

O gari também exerceu a função de garçom e diz que se dava muito bem. Por ser muito simpático, faturava gorjetas bem gordas. “Servia pizza, divertia os clientes e me divertia ao mesmo tempo. No final do dia eu estava quase rico”.

Contudo, sorriso não possui apenas momentos bons para compartilhar. É importante saber que há riscos na sua profissão. “A gente tem que aprender a lidar com o público, se adaptar ao ambiente e com os próprio colegas de trabalho. Conforme o tempo, os moradores se acostumaram com a minha forma de ser, do meu jeito de trabalhar. Na comunidade faço meu trabalho, não me envolvo com nada, mas trato todos de forma educada.”

Sobre preconceito em relação a profissão, ele conta que sempre existiu e acredita que um dias as pessoas vão amadurecer. “Teve um dia que pedi um copo de água e a moradora me entregou a jarra. Depois que todo mundo bebeu água, fui devolver o jarro e ela não aceitou. Olhou com cara de nojo e disse que não queria mais. Eu ignorei e falei para meus colegas de trabalho olharem pelo lado positivo. Ganhamos uma jarra!”, conta Sorriso, brincando com a situação.

Casado há 9 anos, Sorriso mora em Marechal Hermes e tem um filho de sete anos chamado Pedro Henrique. Perguntado se a esposa sente ciúmes da afinidade com os moradores do Alemão, ele responde que não esconde nada dela e que é um homem fiel. “Tenho 3 perfis no Facebook e nunca escondi nada da minha mulher. É sempre bom manter uma relação aberta e não mentir. Mulher não gosta de traição e nem homem mentiroso.”

Sempre animado, Sorriso faz pose para as lentes e se diverte nas ruas do Complexo do Alemão - (Foto: Foto Clube Alemão)
Sempre animado, Sorriso faz pose para as lentes e se diverte nas ruas do Complexo do Alemão – (Foto: Foto Clube Alemão)

Sorriso diz que só percebeu que era conhecido quando foi abordado por um fotógrafo do Jornal Extra querendo fazer uma matéria relacionada ao dia do gari. “Fizemos uma sessão de fotos e foi muito divertido. Logo depois estava no jornal. Com isso, fui reconhecido em outros bairros além do Alemão, como Barra da Tijuca, Copacabana e Recreio. Nunca imaginei que seria lembrado por isso. Tenho o jornal até hoje.” Sorriso também ganhou um diploma de melhor gari da região.

Participou do programa “Esquenta!”, da apresentadora Regina Casé e fez muitas amizades com famosos, incluindo o xará de apelido e profissão, Renato Sorriso. Quem é o gari Sorriso? O próprio resume como “um cara humilde, maduro, muito bom coração, simpático e tudo do bom e do melhor!”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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