“É impossível ter terremoto no Brasil”. É quase 100% de certeza deste jornalista que você já deve ter ouvido isso em alguma etapa da sua vida na escola, certo? Certo. Vivemos com essa certeza até a madrugada desta sexta-feira (14) quando um alerta de terremoto chegou a celulares, informando que tremores de magnitude 5,5 poderia ocorrer na região entre Rio de Janeiro e São Paulo. Entretanto, nada aconteceu.
A notificação chegou por volta das 2h da manhã em celulares de sistema Android e pegou muitas pessoas de surpresa. Nas redes sociais, o suposto ‘TERREMOTO’ foi um dos assuntos mais discutidos na manhã desta sexta-feira. O alerta do Google avisava de um suposto tremor no mar, cerca de 55 km do município de Ubatuba, região litorânea de São Paulo. Mesmo sendo longe daqui, o serviço também alertou os cariocas a respeito.
Depois daquele alerta de chuvas fortes da Defesa Civil que fez os celulares ‘gritarem’, estamos mais alertas sobre avisos de desastres. Entretanto, diferente daquele episódio, o alerta de terremoto não foi emitido pela Defesa Civil, nem daqui e nem de São Paulo. O Google, responsável pela emissão deste alerta de terremoto, foi contatado, mas até o momento da publicação desta matéria, a empresa não tinha respondido.

Tá, mas existe possibilidade de terremoto aqui?
Pra matar essa dúvida, o Voz das Comunidades conversou com o João Gomes Ilha, geólogo e mestre em Geociências e doutorando em Ciências Polares no Instituto de Ciências Polares Italiano. O João respondeu pra gente que “é muito raro ter terremoto no Brasil porque ele não tá situado nas margens das placas tectônicas. Diferentemente do Chile, que está situado bem na borda da margem das placas tectônicas, o Brasil ele está no meio, então a gente chama aqui é uma região intraplaca”.

Em anos anteriores aconteceram de terremotos em países da América do Sul serem sentidos por moradores das regiões de São Paulo. João explica que esse efeito ocorre porque as ondas que se propagam dos terremotos se propagam pela crosta terrestre. “Elas atingem o mundo inteiro. Uma pessoa que está lá do outro lado do mundo, provavelmente não vai sentir, Mas com equipamentos com precisão adequada, os sismógrafos vão captar esse terremoto. Foi o caso em São Paulo, as pessoas sentiram o terremoto que aconteceu, que aconteceu no Chile e também em Porto Alegre, nos anos 90, quando pessoas sentiram terremoto que aconteceu na Bolívia, mais de 2.000 km de distância”.
No mapa acima, é possível ver que tem uma placa no Oceano Atlântico, entre a América do Sul e África. Essa placa poderia representar algum perigo para o Brasil? Como um tsunami ou algo assim? Quem respondeu essa pra gente foi o professor do Depto. de Geologia Aplicada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Francisco Dourado. Ele explica que essa placa específica que divide America do Sul do continente Africano é chamada de placa divergente e que existem falhas que são perpendiculares a essa abertura. “Imagina como se fosse em dois carros, um andando do lado do outro, eles se encostam. Se eles viajarem na mesma velocidade, não tem atrito entre eles. Mas se um desses carros começar a acelerar, ele vai começar a gerar arranhar o carro que tá do lado dele. Mas, naturalmente, terremotos no território brasileiro são raros”.
Cultura de Redução de Risco de Desastres (RRD)
Alertas como este do Google e como o que foi o da Defesa Civil algumas semanas atrás são protocolos de segurança para que a população esteja alerta e se proteja de alguma tempestade ou ondas de calor. Muitas vezes, aqui no próprio Voz, reforçamos os alertas emitidos pelo Centro de Operações Rio, orgão da Prefeitura que monitora a cidade do Rio de Janeiro.
Essas atividades se integram ao que o professor Francisco Dourado classifica como a Cultura da Redução de Risco (RRD). “Quando há um alerta, significa que existe uma alta probabilidade de ter uma chuva forte. Ele (o alerta) não está dizendo que vai com certeza acontecer. Ocorre é que os dados que estão sendo analisados, apontam para uma grande chance daquilo acontecer”.
O professor ressalta que mesmo não ocorrendo uma chuva forte (citado no exemplo), o aviso é sempre válido. “Os avisos existe por quê? Porque algo está apontando para que essa coisa tenha uma grande chance de acontecer. As pessoas acham que aquilo ali é infalível. Não, a gente tem que criar essa cultura, que é um aviso”, finaliza.