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O sucesso da quebrada incomoda

SAO PAULO, BRAZIL, 2005. The Parais—polis favela (Paradise City shantitown) borders the affluent district of Morumbi in S‹o Paulo, Brazil (Foto: Tuca Vieira)

Domingo. Uns vão no jornaleiro, mas eu prefiro o xorume da internet. Sabe como é, tá tudo ali, pertinho, só clicar. E nessa de “só clicar”, brota um ódio do sucesso bem mais fácil de identificar.

O caô todo gira em torno da grana. Quando alguém da quebrada ganha grana e ocupa o espaço que era ocupado por algum branco com casa na praia, a galera vai à loucura. Até um tempo atrás, quem vinha da favela ia pra mídia fazer papel de coitado.

Mas se eu não me vejo eu não compro.

Sinceramente não me identifico com a pobreza. Não é porque eu sou da Baixada Fluminense que vou achar maneiro ver criança cheia de remela sem camisa brincando na lama. Não vou gostar de ver a galera passando perrengue pra descolar a grana da passagem. O jogo é desigual, as condições não são favoráveis e não vou ficar tranqüilo sobre isso não.

Matéria da Rolling Stone. Emicida estrelando coleção de uma marca de roupa. Pensei: “caraca, o pretinho tá tomando tudo, tá tirando onda, que maneiro, afinal ele gera empregos e movimenta uma pequena cadeia produtiva de artistas seu redor”. Quanto maior a cadeia, maior a necessidade de lucro pra poder reinvestir e segurar a marimba na época que a coisa apertar na firma.

O problema é que esse sucesso sempre é interpretado como “ser vendido”.

Banda gringa vem pro Brasil, se hospeda em hotel chique, cobra 500 conto no ingresso, e o vendido é o mano que veio da quebrada? Qual foi? Estamos em 2016. Não mete essa mais não, galera. Tá feião já.

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Mas não é de agora que esse preconceito nonsense aparece. Na real, toda vez que alguém da quebrada começa a ganhar grana ou ficar famoso, começa a ser visto torto. Não é porque vim da pobreza que tenho que ficar nela.

Feudalismo acabou faz um tempão já.

Não sei quanto a você, leitor, mas eu quero ganhar uma grana com a minha arte. Quero ser muito bem pago pelos meus textos. Quero tirar onda de Land Rover. ‘Não preciso de um boné de 500 conto, preciso de um boné que eu gosto e pronto’, já avisava o homicida de MCs. Quero ver todo mundo bem. Quero ver o fim da pobreza. Quero ver a minha Baixada Fluminense com água, luz, esgoto, asfalto, transporte público, internet, shopping, crédito no cartão, grana no banco e cama box.

A gente, que vem da dureza, merece ganhar uma grana. Merece em dobro.

É aquele papo dado há uns 5 anos atrás:

‘Odeio vender algo que é tão meu, mas se alguém tiver que ganhar grana com essa p*era, então que seja eu’.

E tem aquele papp dos Racionais já de 15 anos atrás, né:
‘Dinheiro é bom, sim, se essa é a pergunta’.

Sobre o autor:


Wesley BrasilSou Wesley Brasil, artista gráfico, especializado em projetos de engajamento digital. Fundei o Site da Baixada em 2006, acreditando numa Baixada Fluminense melhor através do amor.

 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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