Em 2025, o Voz das Comunidades completa 20 anos. Esta é uma matéria especial em celebração a este marco na qual relembramos a trajetória do Voz até aqui.
Ter uma casa para abrigar sonhos e desfrutar do conforto é essencial para todo ser humano. O lar é sinônimo de acolhimento e aconchego e precisa ser bem cuidado. Para organizações sociais e instituições, ter uma sede é fundamental para ter um espaço de compartilhamento de conhecimentos e construção de metas. É sabido que conquistar esse lugar exige uma caminhada árdua. Mas nada melhor que o sabor de desfrutar do próprio cantinho.
O Voz das Comunidades hoje conta com a Casa Voz: um lar que tem a cara do jornal. Mas nem sempre foi assim. Há 20 anos atrás, Rene e seus amigos se organizavam na sala de casa. Depois, outras organizações foram abrindo o espaço até as outras sedes que o Voz teve no Complexo do Alemão.
Um momento marcante dessa história é quando uma das sedes do Voz sofreu um incêndio, em 2013. A casa tinha sido um presente do apresentador Luciano Huck. Antes disso, a equipe se reunia em uma sala da associação de moradores no Morro do Adeus. Com a repercussão que o jornal teve em 2010, Huck já tinha interesse em colaborar de alguma forma para a continuidade dos projetos. Ao saber da falta de uma sede, ele viabilizou o espaço e fez uma surpresa.
“Quando veio essa oportunidade e esse apoio do Luciano, foi uma ponte de esperança de um começo novo para a gente, quanto moradores do Alemão. Então foi bem legal. A gente pôde sonhar com novas possibilidades, a gente sonhava com um espaço e a gente queria muito um para chamar de nosso. E foi legal. Tendo aquele espaço a gente pensou em muitas coisas, em muitos projetos. Foi pouco tempo, mas deu para a gente curtir bastante”, relembra Betinho Casas Novas, que foi produtor de comunicação e eventos do Voz durante 13 anos.
Essa realização de um novo espaço foi levada pelas chamas. Betinho relembra que ele e Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades, celebravam por ter finalmente um lugar para se reunir e trabalhar. Horas depois, o contato entre os dois teve um outro tom: o desespero. A sede, que ficava em um último andar de um prédio na Sabino, havia pegado fogo e destruído diversos equipamentos. Poucas foram os objetos que deu para salvar. Câmeras, documentos, roupas: tudo isso foi com as chamas. Além da tristeza de ver um sonho destruído.
“Eu lembro dessa cena muito forte. A gente entrou na rua e ainda tinha alguns carros de bombeiros na Grota e muita gente apavorada. Reconheciam a gente e falavam: Caraca, queimou! Queimou a sede de vocês”. E a gente foi correndo e chegando lá os bombeiros não deixaram a gente subir o beco. Só dava pra ver escorrendo pelas escadas as águas sujas de preto e a fumaça. Ali a gente foi vendo nosso sonho ruir junto com as fumaças, né? A fumaça ia subindo e a gente via cada pedacinho de tudo que a gente tinha construído ali”, conta Betinho.
Depois de vivenciar esse pesadelo, só restou recomeçar. A dor de não ter um espaço próprio durou dois anos. Nesse tempo, os encontros eram realizados em pizzarias, em sedes de apoiadores do CPX, nas lajes de casa. Foi um período delicado. Até chegar mais uma proposta do Luciano Huck. Dessa vez para reformar a sede incendiada. O episódio lamentável também fez com que grandes marcas voltassem o olhar para o Voz das Comunidades; fazendo com que, obrigatoriamente, a instituição encaminhasse os documentos para formalização da sua existência.
Cerca de 20 anos depois, temos a Casa Voz, que abriga sonhos, projetos e uma equipe qualificada. As chamas não apagaram a vontade de fazer um jornalismo de favela digno e justo.
“É um sonho nosso. Foi muito difícil pra gente lá trás passar o que a gente passou. E toda vez que eu venho aqui [na Casa Voz] que eu olho tudo isso eu tenho uma sensação de dever cumprido. A sensação é de que os nossos desejos lá trás foram realizados”, afirma Betinho.