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Veja o que sobrou do PAC no Alemão

Entenda as propostas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os projetos abandonados no Complexo do Alemão

Colaboração: Melissa Cannabrava / Beatriz Diniz
Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

Em 2008, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) chegou no Complexo do Alemão. O objetivo era acelerar o crescimento da comunidade com implementação de políticas públicas, obras de urbanização, desenvolvimento social e econômico das áreas consideradas de risco. 

O PAC foi desenvolvido em parceria com o governo federal, integrado no Plano Estratégico do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A ideia era que com a pacificação seria possível implementar melhorias na comunidade, como grandes obras de infraestrutura, saneamento básico, habitação, transporte, energia, saúde, educação, trabalho, cultura, acessibilidade, esporte e lazer. 

No entanto, mesmo com o Estado dentro do território as iniciativas idealizadas pelo projeto não vingaram. Alguns espaços fecharam por falta de investimento ou manutenção. O governo justifica que a violência também é um empecilho para a continuidade desses projetos, ou seja, a pacificação não garantiu segurança para que os benefícios destinados aos moradores fossem concretizado com êxito. 

Além das promessas que não vingaram, o desvio de verba também foi um problema do Programa de Aceleração e Crescimento. Mais de R$ 900 milhões foram investidos nas obras do PAC no Complexo do Alemão. Porém, o investimento não foi direcionado apenas para o programado, até 2016 corria uma investigação sobre superfaturamento de R$ 127,4 milhões nas obras do Alemão. 

O que saiu do papel virou apenas lembranças

Nas obras do PAC, unidades habitacionais foram construídas para abrigar moradores removidos para as obras do teleférico. Os conjuntos ficam localizados no Entorno 1 (Avenida Itaóca, 1.174), no Entorno 2 (Avenida Itaóca, 1.833), no Morro do Adeus, na Poesi (Estrada do Itararé, em Ramos) e na Área do Gás (Heliogás). Ainda assim, inúmeras famílias do Complexo do Alemão ainda aguardam por moradias. 

Em 2015, famílias que foram retiradas da comunidade conhecida como “Favelinha da Skol” pediam o início das obras do programa “Minha casa, Minha vida” no local. Foto: Betinho Casas Novas / Voz das Comunidades

O programa que previa beneficiar mais de 120 mil pessoas abandonou boa parte dos moradores do Alemão. Liderança do Movimento por Moradia no Complexo do Alemão, Camila Santos contou ao Voz das Comunidades que a luta pelo direito à habitação ainda é árdua na comunidade. Mais de mil famílias vivem com aluguel social de R$ 400,00, aguardando unidades habitacionais que deveriam ter sido entregues pelo PAC. Segundo Camila, apesar das pressões que são feitas ao governo do estado do Rio e ao governo federal, não há retorno nem previsão de quando essas famílias serão direcionadas a novos lares. 

Cinco anos se passaram e hoje o terreno funciona como depósito de entulhos. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Fruto das obras do PAC, a Vila Olímpica do Alemão é o espaço esportivo prometido pelo programa. O local está em atividade atendendo aos moradores com nova gestão administrativa. O Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes também foi construído pelo programa e continua em funcionamento.

Colégio Estadual Tim Lopes, na Estrada do Itararé. Foto: Melissa Cannabrava / Voz das Comunidades

Contudo, outras propostas do programa foram abandonadas e deixaram de existir com o passar dos anos. Um exemplo é o Teleférico do Alemão, com nove anos de existência já está há quatro sem funcionar e segue sem previsão de volta. Assim como no transporte, iniciativas de acessibilidade, cultura e lazer ficaram apenas nas lembranças dos moradores. 

Transporte que já foi considerado ponto turístico e cenário de novela está abandonado. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Confira as propostas do PAC que não existem mais no Alemão

  • Teleférico para transporte de moradores da comunidade, não funciona há 4 anos.
  • Agências bancárias, posto do INSS, DETRAN e Correios foram retirados da comunidade.
  • Implantação de esgoto sanitário, abastecimento de água, iluminação, pavimentação, recuperação ambiental, obras viárias, drenagem pluvial e contenção de encostas em oito localidades: Entorno 1, Entorno 2, Joaquim Queiroz, Novo Alemão, Palmeiras Matinhas, Alvorada Cruzeiro, Praça Vila Paloma e Serra da Misericórdia. Todos esses serviços estão abandonados.
  • Centro de Geração de Renda operado pela FAETEC, foi inaugurado em outubro de 2009 com salas de aulas, de atendimento, cozinha industrial e sala de pesagem. O projeto não existe mais.
FAETEC da Av. Itaóca não existe mais. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
  • Centro Integrado de Atenção à Saúde (CIAS) que incluiria Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Centro Cirúrgico Ambulatorial (CCA), policlínica com 14 consultórios, diagnóstico por imagem e laboratório de análises clínicas. Apenas a UPA atende a moradores do Alemão.
  • Centro de Referência para a Juventude (CRJ) voltado para qualificação profissional, com curso pré-vestibular, biblioteca, oficina, sala de informática, entre outros, no interior da Estação Alemão. O CRJ não funciona em sua totalidade, apenas oferece atividades lúdicas para crianças. 
  • Biblioteca localizada na estação Palmeiras do Teleférico, que era administrada pela Secretaria Estadual de Cultura está fechada.
  • Sala de leitura localizada no interior na estação Morro do Adeus do teleférico está fechada.
  • Posto de Orientação Urbanística, era administrado pela Prefeitura do Rio, localizado na estação Morro da Baiana do teleférico, também está fechado.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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