Pequeno bailarino do Alemão enfrenta barreiras com sua mãe para realizar seu grande sonho

Com apenas 8 anos, Guilherme Leonardo busca superar dificuldades financeiras e o preconceito para seguir carreira na dança clássica com apoio da mãe
Foto: Uendell Vinicius/Voz das Comunidades

No Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, o balé transformou a vida de Guilherme Leonardo, de 8 anos. O menino, que nunca havia demonstrado interesse pela dança clássica, se apaixonou pela arte após conhecer uma professora do projeto social ViDançar. Desde então, não parou mais.

Quem conta essa história para o Voz das Comunidades é Beatriz de Souza, de 26 anos, mãe solo e principal incentivadora do pequeno bailarino. “Ele fazia break, xadrez, outras coisas. Aí, um dia, me pediu pra fazer balé. Quando falei com o projeto, todo mundo abraçou a causa. Por ser menino, tinha menos procura, então ele foi super acolhido”, lembra Beatriz. O projeto doou sapatilha, short e tudo que Guilherme precisava para começar.

Foto: Uendell Vinicius/Voz das Comunidades

O talento e dedicação do menino chamaram atenção. Em 2023, Guilherme conquistou uma bolsa integral no Estúdio Gouveia, no Centro do Rio, onde passou a treinar para uma audição no Teatro Municipal. O esforço deu resultado: ele foi aprovado para estudar balé no projeto Maria Olenewa, uma das escolas mais tradicionais do país.

Ele treinou sem férias, sem dormir direito, focado. E passou! Pra mim foi um sonho realizado, porque na infância eu queria dançar balé, mas nunca tive oportunidade. Nunca incentivei, veio dele”, diz a mãe emocionada.

Hoje, Guilherme dança de segunda a sábado. Durante a semana, vai do Complexo do Alemão ao Centro do Rio para estudar. Aos sábados, volta às origens, no projeto que o acolheu. Mas manter esse ritmo tem um custo, especialmente para Beatriz, que depende de um pequeno auxílio e do trabalho como cuidadora de crianças. Neste fim de semana, no sábado (08), ele se apresenta no ViDançar, projeto de balé que prepara crianças para grandes audições.

Minha maior dificuldade é o financeiro. Às vezes, não tenho R$ 1 pro lanche. Ele sai da escola 13h40 e chega em casa 21h. Fica muitas horas fora, gasta muita energia, sente muita fome. Já teve dia em que ele foi sem nada, porque eu esqueci de pegar fiado na padaria e entrei em desespero. Me senti um lixo.

Foto: Uendell Vinicius/Voz das Comunidades

Além da dificuldade financeira, Beatriz ainda enfrenta o preconceito. “As pessoas julgam porque ele é menino e faz balé. Mas eu ensino ele a não absorver isso. Ele não tá roubando, nem matando. Dançar não tem nada de errado.”

Para Guilherme, o balé é mais do que um hobby: é parte de quem ele é. “Eu gosto de dançar porque me sinto feliz. Quando eu tô no palco, eu me esqueço de tudo, só penso na música”, diz ele, com brilho nos olhos. O sonho? “Quero dançar no mundo todo. Quero ir pra Paris e mostrar que menino também pode fazer balé.”

Segundo a mãe, a dança mudou a vida do filho. “Ele já era uma criança feliz, mas agora é mais ainda. Anda saltando, dançando o tempo todo. Melhorou na disciplina, na postura, sabe se portar. Eu tô aprendendo junto com ele. Espero que ele vá pra Paris, que realize esse sonho. E se ele for, a mamãe vai junto.”

Foto: Uendell Vinicius/Voz das Comunidades

Nesta semana, Beatriz abriu uma vaquina on-line para ajudar a custear as despesas para as aulas e os concursos do pequeno Guilherme.Qualquer apoio é bem-vindo. Uma sapatilha, uma meia, um lanche, qualquer coisa. E que mais meninos sejam incentivados, porque aqui na comunidade tem muito projeto bom e pouco apoio. Eu incentivo todas as crianças que eu cuido a dançarem também. Menos tempo no celular, mais tempo se descobrindo.

Para contribuir com qualquer quantia na vaquinha, clique aqui!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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