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O som que traz silêncio (e dor)

A favela é um lugar de muitos sons. Tem sempre uma maquininha em algum bar tocando O Rappa, Bebeto ou algum grupo de forró. Tem aquela vizinha que grita o menor na hora de almoçar para ir ao colégio. Tem também as muitas vozes misturadas na hora da feira e as buzinas de kombi que te chamam para a Praça de Inhaúma/Metrô ou mesmo para a Catedral/Norte Shopping. Os alegres sons da favela!

Mas existem sons que trazem silêncio e dor. Quando tiros são disparados entre becos e vielas, os sons são outros: o cachorro late, a Dona Maria manda as crianças “passarem” para casa e muitas vozes falam sobre “onde será que foi agora”. Em tempos de uso constante das redes sociais, áudios com o som dos tiros são enviados ao grupo da família para avisar que não é seguro chegar em casa naquele momento.

A música na maquininha parou!
Quem?!?
Não pode ser! Que isso cara! Ele era um cara tão bom… (silêncio e dor). Cada som ouvido naquele curto espaço de tempo em que uma rajada é disparada, pode ser o som de menos uma vida. Tirando ou não uma vida, a favela sempre é ferida por essa sonoridade. Aquele futebol é cortado por um tiro, aquela conversa de esquina perfurada por um estalo seco e agudo, aquela fala da professora interrompida por uma dor que atinge nossa alma.

O som da maquininha para. O futebol acaba. O Mc não canta. O Dj não toca. E a vida? Bom… A vida vai ficando um pouco mais triste. Mas não existe música se não existir silêncio. “O silêncio foi a primeira coisa que Deus inventou”. Mas, muito em breve, só o que teremos é o bom e velho O Rappa na maquininha do bar ao lado. O play continua firme em meio ao “Silêncio que precede o esporro”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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