Com um olho castanho e outro azul, Davi Lucas, de 8 anos, é impossível de passar despercebido. Morador do PPG, zona sul do Rio, o menino tem heterocromia, uma condição rara que o transformou em modelo mirim e influenciador. Mas o que realmente encanta é sua autoestima, seu carisma e a leveza com que lida com a própria diferença.
“Quando ele nasceu, não abriu os olhos logo. Uma prima olhou e falou: ‘Rose, o olho dele é azul’. Eu ri: ‘Ah, para com isso. Eu sou preta, meu marido também. Como assim azul?’”, lembra Rose Xavier, mãe do menino. Com o teste do olhinho, veio o diagnóstico: heterocromia. “A médica falou: ‘Ele foi premiado’. Disse que podia mudar até os seis meses, mas só clareou. Ficou azul da cor do céu.”

Aos quatro anos, durante a pandemia, Davi começou a pedir para escolher a roupa e fazer fotos. “Eu amo fotografar. Quando vi que ele também gostava, criei um perfil no Instagram. Uma amiga sugeriu e, de repente, as marcas começaram a mandar roupas e produtos. A vida virou. Ele virou influenciador.”
Vieram as campanhas publicitárias, os trabalhos com agências e até viagens. “Ele já fez trabalhos em Santa Catarina. E quer mais. Outro dia perguntou: ‘Mãe, posso ser modelo e jogador, tipo o Neymar?’. Claro que pode.”

Rose também explica que a heterocromia pode ter riscos à saúde, mas não é o caso de Davi. “Ele enxerga normalmente. É só a cor.” Ainda assim, já enfrentou episódios de bullying. “Na escola ou em festas, tem criança que olha diferente. Ele já chegou contando que fizeram piada. Eu perguntei o que ele fez, e ele respondeu: ‘Falei que é inveja. E é mesmo’.”
Desde cedo, a mãe trabalha a autoestima do filho. “Sempre digo: ‘Você é lindo, maravilhoso. Se alguém falar do seu olho, é inveja’. Ensino que ele tem que se amar. Ainda mais sendo negro, da comunidade, com cabelo black e uma condição rara. A sociedade é racista. Então ensino ele todos os dias que ele é maravilhoso.”
Foi no PPG que tudo começou. “Viemos pra cá quando ele tinha seis meses, por causa da asma. Aqui ele melhorou, e aqui tudo aconteceu. Muita gente não valoriza a comunidade, mas tem muita oportunidade.”
E quando perguntado sobre o próprio olhar, o pequeno Davi não hesita: “Meu olho parece com o céu.”