“Favelado não é bandido. Meu filho não era bandido”, comunidade do Morro Santo Amaro se une em ato por Herus Guimarães

Moradores, ativistas e artistas se mobilizam em caminhada pacífica por justiça após morte de jovem de 24 anos
Foto: Rafael Costa / Voz das Comunidades

Produção: Samantha Millan

O domingo (8) foi marcado por luto e união no Morro Santo Amaro, Zona Sul do Rio, após a morte de Herus Guimarães, de 24 anos. O jovem foi morto durante uma operação policial do BOPE na comunidade enquanto acontecia uma festa junina. Em resposta, moradores, artistas e ativistas organizaram um ato pacífico que percorreu as ruas do bairro Glória. Não era só um protesto. Era um ritual de memória, misturado com indignação, tristeza e força mútua do coletivo..

No ponto de partida, um silêncio carregado se rompeu com vozes conhecidas por outras dores. Mães que também enterraram seus filhos tomaram o microfone e abriram o coração.. Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, relembrou os quatro anos da morte da filha e estendeu seu apoio à família de Herus. Paula de Oliveira, mãe de Jonathan — morto em 2014 — desabafou: “A gente nasce com um alvo nas costas”. A ativista e ex-vereadora Mônica Cunha responsabilizou o Governo do Estado: “Vai fazer 20 anos que meu filho foi assassinado, e cada um que se vai é a mesma ferida aberta de novo. Não existe solidariedade vinda de Cláudio Castro”.

Foto: Samantha Millan / Voz das Comunidades

O pai de Herus, Fernando Guimarães, pediu que o protesto seguisse em paz e reforçou: “Favelado não é bandido. Meu filho não era bandido. Meu filho era trabalhador, tinha um futuro pela frente”. A mãe também fez um depoimento comovente, relatando os momentos de terror depois que os agentes do BOPE entraram na comunidade e abriram fogo.

Ademar Lucas, presidente do Instituto Ademafia, resumiu o sentimento coletivo: “Essa guerra às drogas é uma desculpa. Uma farsa para justificar o massacre do nosso povo. Se a gente tivesse a força que o Estado tem, essa guerra nem existiria.”

Ao longo do trajeto, entre cartazes e cantos de resistência, os rostos de moradores se misturavam aos olhares atentos das janelas dos prédios da Glória. O ato foi acompanhado pela Polícia Militar e seguiu de forma pacífica até o ponto onde tudo começou. Lá, de volta ao coração do morro, o povo bateu palmas e ergueram as vozes por Herus, por todos os que se foram, por todos os que ainda resistem.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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