Rodas de conversa acontecem a cada dois meses na Grota
Com dinâmicas sobre empoderamento feminino e serviços de acolhimento psicológico, o Chá da Tarde, é promovido pelo coletivo Mulheres Em Ação do Alemão (MEAA) a cada dois meses na quadra do Espaço Cultural Maria Madalena, na favela da Grota. O principal objetivo é fazer uma roda de conversa sobre saúde física e mental entre as mulheres do Complexo do Alemão através da troca de experiências entre as participantes.
“O número de crimes contra as mulheres, principalmente negras, aumenta diariamente e normalmente é o namorado ou esposo quem as agride. Por isso, é necessário que elas saibam como agir quando o seu companheiro tem atitudes que violam a integridade física e psicológica delas”
Cerca de 11 mulheres fazem parte do planejamento da ação – moradoras de diversas regiões da zona norte, como o próprio Alemão, o Complexo da Penha e Madureira. Todas estão engajadas em alguma luta social e são ativas em projetos de suas respectivas comunidades. Para os encontros, são convidadas autoridades de saúde e de causas jurídicas, como a advogada Kris Oliveira, especialista em violência doméstica. “O número de crimes contra as mulheres, principalmente negras, aumenta diariamente e normalmente é o namorado ou esposo quem as agride. Por isso, é necessário que elas saibam como agir quando o seu companheiro tem atitudes que violam a integridade física e psicológica delas”, comentou Kris durante a palestra.
Combinar militância feminista e ações de moradia popular é rotina na vida de Camila Santos, uma das organizadoras do Chá da Tarde. Nascida e criada no Complexo do Alemão, há 33 anos, ela conta que a iniciativa surgiu a partir da necessidade de estabelecer uma política de autocuidado entre as mulheres de regiões periféricas do estado. Camila conta que a primeira edição da roda aconteceu logo após a morte da vereadora Marielle Franco, do PSOL, assassinada em março deste ano no centro do Rio de Janeiro. “Depois do que aconteceu com Marielle, ficou claro que nós, mulheres e negras, estamos à frente de tudo. Acham que somos uma fortaleza e por isso temos sempre uma solução para tudo. Mas quem cuida da gente? Quem nos ouve?”.
A estudante de engenharia de produção e moradora da Penha Carolina Silva também participa do projeto. Ela explica que viver diariamente em um ambiente com forte presença masculina por vezes pode anular a voz das mulheres, mas é preciso resistir e se afirmar. “Quanto mais fazemos pela nossa comunidade, quanto mais fazemos pelo nosso povo, nós somos vistas e fortalecidas”, acrescentou.
Outras iniciativas são promovidas pelo MEAA, como a Festa do Dia das Crianças em outubro. Para o futuro, o coletivo espera que as rodas de conversa sejam mais frequentes e as mulheres estejam cada vez mais fortalecidas.
“Nossa expectativa é que possamos sair do encontro motivadas e cientes de que a luta diária não é fácil. Não precisamos estar sozinhas ou fortes o tempo todo. É importante que saibamos que quando nos unimos, conseguimos avançar em coletividade”, finalizou Camila.