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Moradores do Complexo do Alemão sofrem com falta de luz e água após megaoperação

Com mais 72 horas sem energia, o prejuízo com a perda de alimentos é grande
Sem luz há três dias, moradores sofrem com comidas estragadas. Foto: arquivo pessoal

A violência policial não se resume aos tiros disparados. Quem é cria de favela, sabe que o medo, o terror e a insegurança se fazem presentes de diferentes formas em ações do Estado. A megaoperação realizada pela polícia Militar e Civil na última sexta feira (24) deixou não só rastros como também prejuízo aos moradores do Complexo do Alemão. Em diferentes partes, a falta de luz e de água tem afetado o cotidiano da população.

Vanessa Nunes, de 32 anosé moradora da Grota e está desde 10h da manhã de sexta feira sem energia. Ela é mãe de um adolescente autista de 13 anos. Para além do calor, o menino tem sofrido com a quebra de rotina, visto que Viviane precisou se abrigar na casa de parentes por conta da fala energia. Assim, a agitação e nervosismo passam a fazer parte do dia a dia. E não para por aí: com a seletividade alimentar, as carnes específicas preferidas pelo jovem foram estragas pela ausência de refrigeração.

“Eu não tô podendo ficar em casa pela falta de luz. Ontem ainda tentei voltar com ele, mas não consegui ficar durante muito tempo. Isso atrapalha tudo. As carnes da minha geladeira estão estragadas. Os alimentos todos que estavam dentro da geladeira estão estragados. Vou ter que repor tudo. O que tinha foi estragado. Daí a gente não pode seguir com nossa vida em paz por conta dessas operações”, desabafa Viviane.

Para além do peso no bolso, este descaso também afeta o estado emocional dos moradores. Maria José Santos, também moradora da Grota, tem passado por um momento delicado pelo episódio de terror e as consequências no seu cotidiano. “Não consigo dormir e nem lavar roupa. Perdi feijão, arroz e carne. Estou com depressão e ansiedade, com muito medo. Fazendo tratamento no CAPS”, declara Maria.

Moradores perdem alimentos que estavam na geladeira por falta de luz. Foto: reprodução

No Canitar a situação não muito diferente. Matheus Marinho, de 27 anos, está dormindo na casa de amigos e parentes por conta da falta de luz e também perdeu tudo que tinha na geladeira. Apesar das tentativas de contato com Light, a empresa alega que já está providenciado a solução. No entanto, depois de três dias enfrentando o mesmo problema, fica difícil acreditar.

” É impossível, ficar em casa, sem luz e com falta de água. Panela de feijão, arroz, minhas carnes, requeijão, manteiga… tudo, perdi tudo. Sobre eletrodomésticos, ainda não sei se estragaram, pois só com a volta da luz, pra ter essa certeza. Me sinto desprotegido, envergonhado por passar por isso, me sinto abandonado pelo Estado”, conta Matheus.

Enquanto a prioridade do Estado for o confronto, moradores de favela continuarão na escassez. A equipe do Voz das Comunidades entrou em contato com Light. A empresa informou que está atuando no local e que parte dos moradores já tiveram a energia reestabelecida.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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