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No alto do Morro da Providência, Bar da Jura une comida caseira e vista privilegiada da cidade

Existindo e resistindo há nove anos, o estabelecimento da pernambucana Juraci Vilela Gomes já recebeu pessoas do mundo inteiro
Foto: Thayná de Souza / Voz das Comunidades
Foto: Thayná de Souza / Voz das Comunidades

Não é novidade que nas favelas do Rio de Janeiro é fácil encontrar uma vasta culinária nordestina. No Morro da Providência, Zona Portuária, um exemplo disso é o Bar da Jura, localizado no mirante da Praça Américo Brum, onde fica o teleférico – que hoje está parado. Existindo e resistindo há nove anos, o estabelecimento da pernambucana Juraci Vilela Gomes, 68, tem uma vista ampla da cidade e já recebeu pessoas do mundo inteiro, de chefs a autoridades políticas.  

“A maioria das pessoas que vêm aqui procuram uma comida caseira com tempero de vó”, relata Dona Jura, que ultrapassou as fronteiras da primeira favela do Brasil e hoje pode dizer que pelo menos uma pessoa de cada continente já provou e aprovou seu tempero.

Personalidades como o chef italiano Massimo Bottura e a presidente da Câmara Municipal de Paris, Anne Hidalgo, foram alguns dos nomes internacionais para quem ela cozinhou. Mas a verdade é que ela coleciona reconhecimento de cada um que prova da sua arte apresentada em forma de comida, principalmente os moradores do morro. “Todo mundo gosta do Bar da Jura”, diz.

E esse grupo de amigos estava lá para provar. Faz três meses que Ronald, Chico e Vinícius estão almoçando todos os dias no Bar da Jura e confessam: “A gente já vem pensando na comida da Jura”. Ademar foi pela primeira vez e pôde provar um prato de dar água na boca, com arroz, feijão, macarrão e costela de porco.

Antes de estabelecer o Bar da Jura no mirante da Praça Américo Brum, Dona Jura já tinha feito de sua laje um restaurante. “Em 2012, voltando do trabalho, encontrei minha amiga Aline, que me contou sobre o ‘Sabores do Porto’, um festival gastronômico que aconteceria aqui no território”, relata Dona Jura, lembrando o início de seu reconhecimento. 

Inspirada pelo evento, Dona Jura se inscreveu e apresentou seu famoso nhoque de camarão. “Aprendi essa receita quando eu tinha 13 anos, apenas observando minha patroa na cozinha”, contou. Ao final do festival, ela não apenas conquistou paladares, mas também cinco prêmios: 1º lugar nas categorias “Prato Mais Saboroso” e “Prato Mais Criativo”; 2º lugar nas categorias “Cerveja Mais Gelada” e “Melhor Atendimento”; e 3º lugar em uma categoria que ela, com uma risada descontraída, admite não se recordar. 

Mas isso tudo foi 18 anos após Dona Jura passar por um momento que a fez parar de cozinhar e voltar a trabalhar como doméstica. “Em 1994, eu comecei a fornecer comida para os trabalhadores das obras de saneamento básico, no governo de Marcello Alencar.

Mas, quando acabou o governo, acabaram as obras e me restou uma dívida de 5 mil reais”, relembra ela, que chegava a preparar 150 pratos por dia, durante os quatro anos de mandato. “Quando o pobre começa um negócio, ele não tem capital, então faz dívida”, aponta. 

Hoje, ela sente que sua missão foi cumprida. “Eu acho que já entrei para a história do Morro da Providência”, reflete. Alguém tem dúvidas?

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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